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terça-feira, 27 de novembro de 2012

A aurora da filosofia grega


Nada fazia sentido, os amores não correspondidos eram como folhas que caiam no outono. De longe os pássaros cantavam baixo, no frio da noite em que se escondiam e cantarolavam para espantar as possíveis – e ferozes – mágoas. E ficavam ali até o amanhecer, e viam o sol nascer. Voando rumo ao horizonte, esqueciam-se da noite passada e retomavam suas alegrias. E a noite, outra árvore os recolhia. O escuro despertava pavor, mas não mais, agora eles se agarram e se acham ali, no tom mais tenebroso das 24 horas, fugindo dos deuses e ansiando pelo novo raiar.

Naianara Barbosa

Os (não tão) imperceptíveis movimentos da terra


Era manhã cinzenta e o sol já não aparecia a dias. Levantara então da cama e o café estava posto, seu pão integral e café puro, ainda quente. O tão conhecido recado na geladeira estava preso por um ímã de coração. Ele pegou a xícara de café e leu em voz alta: “Querido, cá estou eu falando por recados de novo, perdoe-me. Preciso comprar coisas. Não fique bravo, em poucas horas estarei ao teu lado. Com amor, Mel.”. Ele sorriu e sentou-se na mesa, lá tinha um outro bilhete que dizia “Construção de uma casinha...”, e com os lábios molhados de café, pensou: “Afinal, a minha casinha completa a dela.”. Ele sempre dissera que iria deixar o mundo dar suas próprias voltas, e foi numa dessas voltas que ele a encontrou, e a amou... E dali em diante ele sabia que seu mundo não daria mais volta nenhuma, se não estivesse colado ao dela.

Naianara Barbosa

Acordo inútil, merda


Fiz então um acordo com a dor: Trocamos de lugar. Eu te faço mal agora, eu te faço chorar, eu te faço enlouquecer dentro de si. Ela riu de mim e disse que não fazia tão mal assim a ninguém, mas aceitou.
Três dias foram suficientes para que ela se arrependesse de ter aceito. Ela implorou para me fazer desistir de manter o desafio, para voltar ao seu lugar. Ela se ajoelhou e chorou, e se arrastou pelos cacos no chão, grudada aos meus pés. Olhei ela e senti – não sede de vingança – mas, pena. Aquelas dores eram minhas, ela não precisava senti-las, apenas eu. Então troquei os papéis de novo. Voltei a sentir minhas próprias dores, e vi a dona Dor ir embora, sem sentir nada, fazendo apenas o seu papel: Machucar a vida das outras pessoas, mas não a dela. Não, a dela não. E, eu bem sei, ela nunca mais aceitaria nenhum desafio.

              – Fiz então um acordo como sorriso: Apareça, meu querido, apesar de qualquer coisa.

Naianara Barbosa


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Sou o teu encalço


Sou a fotografia preta e branca na parede da casa, sou a poesia estonteante que mora em minha alma, sou o pássaro renascido que abre voo, sou a plebe indignada com a sua condição, sou o fogo que queima, que arde e incendeia. Sou de tudo um pouco, sou do nada um terço, sou a criança ou o berço, sou o recomeço. Sou o segundo, o instante, a calmaria – sem nada mais a manifestar –, sou o que calo diante dos tons graves e me contorço com os timbres agudos, sou o vilarejo abandonado de onde se vê o por do sol e um casal de velhinhos. Sou a palavra que te atinge, sou o delírio que te comprime, sou o vendaval que passa e bagunça, e arrasa, e arrasta tudo que um dia foi seu. Sou a noite fria, sou tua moradia, e sem perceber fomos ficando iguais, duas luzes distantes demais.

Naianara Barbosa Melo 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Negritude à flor da pele


Sim, SOU NEGRO, não desacredite no que digo, feche os olhos e verá. Tu és também! N-E-G-R-O, sabe o que é? É ser duro, é ter raça, é ter vontade e sangue quente na veia. – Ele gritava desenfreadamente pela rua, com uma placa na mão e com tinta preta escorrendo pela pele – negro, filho do homem, negro. Olhe pra mim, olhe pra você. NEGROS! Iguais. – Saía mostrando à todos que era negro, apesar de ser um branco de olhos claros e cabelos lisos, ele acreditava no que dizia – HAHAHAHA, deves me achar louco, piradinho, não é? Só porque tenho essa cor, não quer dizer que sou branco. Quem são os brancos? Nada contra eles, mas olhe onde nascemos, isso é o Brasil, isso é um funil, nada disso cabe no que o mundo lá fora espera, ninguém aqui é branco, brancos são os de fora, os que vêm aqui conhecer nossas praias. Nós? Nós somos negros, pretos, audaciosos e vertiginosos, nós que temos no sangue o que vem sido passado à décadas, nós que cultivamos o que aprendemos das outras gerações, e nós mesmos que jogamos isso fora. Nós que revolucionamos o mundo! Nós que fizemos parte dele de qualquer forma possível e impossível! Nós, apenas nós! – E corria pelas ruas, desenfreado e com o suor pingando, seu sangue latejando e sua garganta quase explodindo de tensão – Sou negro e grito diante de todos, sou negro e não nego, sou negro e tenho orgulho, porque não basta ter a cor para ser negro, tem que ser o centro, tem que dar 100% do que se faz. Porque é sendo negro que se é humano! – E abriu os olhos e se viu no seu quarto, desesperado, era ele branco, negro, índio, mistura de todas as raças, era ele a cara do Brasil, o tal menino do Rio que cresceu querendo falar o que sentia. 

Naianara Barbosa Melo

Samba, Lelê, não importa se estás doente


A lua me chama, a rua me chama, aquarela me canta, a vida me encanta, tudo me traz o samba. “Samba lelê, tá doente”, coitada dela – gritou o dono da padaria – quem mais vai sambar nessa tal roda imaginária, quem mais trará a rosa cálida? Samba, Maria, samba. Samba que o teu samba desperta o arranjo musical do povo, samba que o teu samba reanima as mães cansadas de casa e alegra os maridos exaustos. – que tem a Lelê? Porque teu samba não é visto mais? – perguntou-me então a pequena menina. Todos sentem sua falta, Maria do samba, todos querem o teu rebolado presente no cotidiano. Então Samba lelê, não importa se estás doente. Porque tua doença afeta todo um organismo externo chamado “comunidade” e a falta do teu samba traz no peito a lembrança dos risos da noite e do brilho das estrelas que seguem apagadas à tua espera.

Naianara Barbosa Melo

A-ponte


Vê-se ao longe o horizonte e todos se perguntam como se faz para tocar nele, eu apenas digo “Use a ponte”, mas ninguém compreende. Todos olham ao redor e ninguém vê o que eu digo, é tão fácil, USE A PONTE, que ponte, meu Deus, que ponte? A tua ponte. Não é de cimento, nem é de concreto, é a ponte do pensamento, da razão e da indagação. Até onde você construiu a tua ponte? Até onde ela teve asas e ate onde ela estava presa ao chão? Que caos, que cais, chorais por não ter dado a tua ponte a carga necessária. A ponte não é pra ir e nem pra voltar, é só atravessar. E como sair dessa ilha, dessa vida? Use a ponte. A ponte não precisa sair do lugar, aponte pra onde quiser e vá.

Naianara Barbosa Melo 

domingo, 21 de outubro de 2012

Ele se desencontrou dentro de si


Estilhaçou-me então como caco de vidro envergado no chão e me pus a cantar para que a dor fosse amenizada, nada adiantou. Sentia a contração dentro d’alma que floresceu quando meus olhos, inseguros, encontraram os teus. E num segundo depois te vi partir, me vi sentir que não estaria mais ali. Fora sequestrada de mim sem perceber, e ao percorrer os olhos pelo saguão vazio, cada passo trazia o eco da agonia de estar ali desacompanhado, e antiquado como sou, não resisti e dancei a mais bela melodia que saia do timbre da sua voz. Invadia-me então de forma surpreendente cada palavra que saia por tua boca e que quebrava a barreira do silêncio, e dancei, e dancei, e dancei... Até cansar e cair, e morrer, e continuar vivendo.

Naianara Barbosa Melo

sábado, 20 de outubro de 2012

Ao menino que brincava com as palavras

Sorria mais, só ria mais, sorria... mas, por que sorrir? Só rir, só ir. Chegou a hora de parar, de ficar, stop. Ex-top de balada, hoje quem é você? Fica agora nesse quarto vazio, quadrado e quebrado, pela quarta vez no dia. Se tornou pescador das próprias mágoas. Pescador, pesca a dor, pecador, acabou se tornando isca. Deixou de sonhar, de buscar, de amar. Ah, mar, esplendido como sempre, infinito aos olhos de quem o vê. Como pode um só lugar ter tanto a esconder? O anzol que ontem prendia todas as ilusões, hoje vive em busca de sorrisos. Só risos, sem mais. Sem caos, sem cais, sem ais, não mais. ME DEIXA, gritava desesperado. Me queixa, me mexa, me de ameixa, Raul Seixas, cadê você? Parecia uma doença, estava atrás de qualquer presença que o fizesse se sentir melhor. Era quase um desafio. Desata o fio, dez a fio, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, BUM! Sumiu. Seu tempo esgotou, sua chance desperdiçou, ele desistiu.

Naianara Barbosa Melo

sábado, 6 de outubro de 2012

(Re)Sossego


Sorri, pequena princesa
Sorri para afastar o que te assusta
Para empurrar o que te surra
Pra acabar com o que te dói

Sorri
Porque desde o dia em que sorriu pra mim
O mundo se tornou feliz.


Naianara Melo
Crédito: Isabela Fontes

Minha

Não temo, és minha e a morte não leva
Não peço, te tomo e te trago comigo
Assim feito um verso sentido
Porque és sonho, és mar e treva.

Naianara Melo feat. Vânia Melo

sábado, 22 de setembro de 2012

Eu, meu, teu, nosso


Tudo está em calma...
Vida, minha vida, sua vinda, nossa ida
Foi de mansinho...
Suas asas, suas mágoas, suas lágrimas
Fizeram uma sinfonia...
E minha alma chorou, sussurrou seu nome, te implorou aqui
E me banhou...
E me inundou, e me afogou, e me tomou
E te levou pra longe...
Te procurei, te gritei, me desesperei
Quem fui?
Não fui nada, e agora, menos ainda
Sou porque tu és
Então, não deixes de ser
Senão nada mais sobrará de mim
Só amor
Sem pudor
Teu calor
Teu sabor
Nosso amor


Naianara Barbosa

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O tal do atraso



E virando-se para o primeiro ônibus que passou, suas últimas palavras foram “eu estou atrasada”. Entrou no ônibus e nem sequer olhou para trás para olhar para ele. Aquele último olhar, sabe? De despedidas de filmes. E ele ficou lá parado por uns longos 20 minutos, revivendo aquela cena. Aquilo tinha doído. Ela estava atrasada pra que? Para sair da vida dele, ou para tirá-lo da vida dela? Ele não sabia. Ele era o tipo de garoto que ninguém dava nada. Moreno, cabelo preto, olhos verdes, alto, musculoso, com abdômen dividido. Um cara desses, pelo perfil da sociedade, pega todas e depois deixa para trás. Mas ele era diferente, ele a amava. E ele foi deixado. Três palavras e 30 km/h o distanciava dela, e essa distancia ia aumentando a cada segundo que ele olhava o ônibus partindo, enquanto ele estava ali, parado, sentindo-se completamente... vazio.
- Seu idiota, imbecil, otário. Se apaixonou e olha no que deu, foi largado. Ah, ela nem era tão bonita assim. Ela só era morena, dos cabelos grandes cacheados, os olhos castanhos, os lábios perfeitos, o olhar encantador, as mãos que encaixavam das minhas, o abraço que me tirava todo o medo, o sorriso que me apaixonava. Para! Para de falar assim dela, idiota. – Ele repetia para si mesmo, tentando diminuir o que sentia.
O outro dia foi totalmente sem noção, ele não se concentrava em nada. Seu pensamento estava nela, sua vida pertencia a ela. E ela tinha ido embora sem nem sequer saber disso. Passado dois dias, ele foi para o ponto de ônibus que ela sempre ia, todos os dias, o mesmo horário. Ele esperou 20 minutos até vê-la caminhando com sua blusa preta e branca listrada, calça jeans, sapatilha e o cabelo de lado.
- Como ela está linda. – ele disse para si mesmo.
Ela foi se aproximando, estava no telefone e não o viu. Quando chegou no ponto, viu um garoto com o boné para trás, segurando uma rosa na mão. Ela olhou direito e percebeu que era ele, então balançou a cabeça negativamente e lentamente. Ele olhou desconcertado, chegou perto e entregou-lhe a rosa,  eles trocaram olhares por um tempo até que ela pegou a rosa da mão dele e deu-lhe um beijo.
Ele a segurou e disse, em meio ao beijo: “nunca se está atrasada para o amor”. Ela riu. Ficaram abraçados, até que aquele ônibus, o de quatro dias atrás, reapareceu.  Ela deixou o ônibus ir, e ficou ali. Ele não entendeu. 11:58, ela tinha que ter ido. Até que ele ouviu:
- Qualquer atraso é bem visto, quando se trata de nós dois.
Veio outro ônibus, ela o soltou rindo, e falou:
- Eu te amo, mesmo estando atrasada. E subiu, e o olhou de lá de dentro. Ele sorriu. Porque apesar de todo atraso na vida dos dois, ele sabia que esse amor valia a pena.

Naianara Barbosa Melo

sábado, 11 de agosto de 2012

Raiou um novo olhar


Nasceu uma flor no meio do asfalto
Nasceu uma cor no meio da cidade
Preta e branca
Trouxe esperança naquele lugar
Raiou no céu um novo olhar
De quem espera algo do futuro
Algo bom
Quem sabe
Um dia.


Naianara Barbosa Melo

domingo, 5 de agosto de 2012

A casinha


Minha infância teve lá suas muitas aventuras. No lugar que eu morava tinha umas casas que estavam abandonadas e como toda criança, existia a curiosidade de ir lá. Passei então a frequentar aqueles lugares com uma amiguinha sempre que saíamos para brincar, e assim apareciam diversas conversas e desejos como “ah, a amarela é minha” “não, eu disse que a amarela era minha primeiro” “então tá, a minha é a azul com um jardim na frente”, e assim ia seguindo os dias, e a cada dia a vontade de ter uma daquelas casas aumentava, era quase um sonho de uma garota inocente. Nunca tínhamos ido até o fim da rua e um certo dia resolvemos ir até lá. Atrás de algumas casas, bem lá no fundo, existia uma casinha que chamou minha atenção. Minha amiguinha olhava para os enormes casarões e dizia que moraríamos juntas, mas eu prestava atenção naquela casinha lá, eu queria morar nela e ter ela só pra mim, pra poder ter minha família e minha vida ali. Pedi então a minha amiguinha para vigiar a rua, que era deserta, mas que de vez em quando passava alguém correndo, ou alguns carros, para que ninguém reclamasse por eu estar de certa forma “invadindo” aquela casinha. Passei pelo portão de madeira sem nem encostar nele para não fazer ruído, me espremendo contra mim mesma para que nem a casinha e nem o que a cercava me percebesse ali. Quando consegui entrar, meus olhos brilharam. Eu estava em silêncio, meu corpo suava. Era eu e a casinha, só. Eu fechei os olhos e imaginei minha vida com ela, seria perfeita. Mas como eu teria aquela casinha pra mim? Eu era apenas uma criança. Quando abri os olhos vi uma flor na frente da casinha, aquela flor cresceu mesmo com todo sacrifício. Fui embora. Passei a voltar todos os dias naquela casinha, sozinha ou acompanhada da minha amiguinha, parecia que ela sentia ciúme da casinha, que bobeira. Eu cuidei daquela flor, era como o mais lindo sorriso que eu poderia ter visto em algum lugar. Eu reguei aquela flor para que ela crescesse como quisesse, e ela foi crescendo. Eu cuidava daquela flor como se fosse minha, mas a cada dia eu tinha que tomar mais cuidado, alguma pessoas já tinham percebido minha presença diária na casinha. Algumas não falavam nada e diziam que era linda a minha preocupação com a casinha e a flor, já outras diziam que isso tava errado. Eu não ligava, eu só queria o bem da minha flor, eu só queria viver na casinha. A cada dia que eu chegava lá, meu coração disparava, minhas pernas bambeavam, eu chegava com tanta vontade de ver a minha flor que o portão já não me importava mais, eu só queria estar ali. Minhas mãos tremiam quando eu ia regar a minha flor, ela era tão frágil, mas tão forte ao mesmo tempo, eu a admirava, eu a amava com tudo de mais puro que eu tinha. Eu tive que me afastar da minha flor, e eu sentia saudade dela todos os dias, todas as horas. Que criança sentiria algo assim por uma flor? Uma flor comum? Mas aquela não era uma flor comum, era minha flor. E eu cuidava dela como se fosse parte de mim. Eu passava horas deitada ao lado dela calada, apenas olhando para ela, eu fechava os olhos ali deitada e sonhava. Ao acordar corria pra casa, mas minha flor ainda estava no meu pensamento, ela nunca saiu de lá desde o primeiro momento. Eu era a criança que estava disposta a ter aquela flor e aquela casinha pra mim, eu faria de tudo para tê-las. Até onde eu iria por essa casinha? Ao infinito... e além!


Naianara Melo

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Me quero comigo

Sem conversa, 
Sem mágoas,
Sem faltas, 
sem sorrisos.


Me quero aqui comigo
E só.




Naianara Barbosa / 01-07

Faltou demais

Dormir chorando
Escondido, para ninguém ver
Acordar lamentando
Pudera eu te esquecer.

Seguir sorrindo
Escondendo tudo que sinto
Deitar e morrer
Pudera eu te esquecer

E todos os dias reviver
E todas as noites falecer
Pedindo um canto teu

E todas as horas que passou
De todos os momentos, o que restou
Foi a falta da presença

A falta da inocência
Da decência
Da insistência...
Faltou tudo!

Menos amor.


Naianara Barbosa  02-07

Bela despedida


“Estou atrasada”
Foi isso a ultima coisa que eu ouvi
Saiu, partiu, nem sequer olhou para trás
E eu sem saber que você não me pertencia mais.

E eu, que sempre me mostrei forte
Te deixei ir
Não dei um passo em sua direção
Pra você era melhor assim.

O mal do amor
É acreditar que não vai ter fim
E o meu erro
Foi não te dar motivos para ficar aqui

Achando que voltaria sempre
Correria, me abraçaria
Me amaria, não me deixaria esperar...
Mas não, ela nem sequer olhou para trás.


Naianara Barbosa / 02-07

Juras acabadas


Voce disse que ficaria
Você disse que me amaria
Você jurou ser só minha

Você me fez sorrir
Disse que para sempre estaria ali
Você me tirou de mim

Coração tolo
Pensa que aprendeu
Sentimentos bobos
Que não entendem que tudo se perdeu

Me fazem chorar
Gritar, morrer...

Quem sou eu?

Antes uma vida, hoje um corpo
Em pé, porém, morto
Por ter acreditado no amor.


Naianara Barbosa / 02-07

Desistência

Eu desisti por medo de faze-la  sofrer
Eu desistir porque cansei
Eu desisti por causa do mundo
EGOÍSTA, só pensa em si e julga o outro.

Eu desisti por cansar das mágoas
Eu desisti por lutar sozinha
Eu desisti por ser fraca
E não ser capaz de enfrentar o que vinha pela frente

Eu desisti
Eu desisti de sorrir
Eu desisti de ti
Eu deixei de existir

Por ser o melhor para todos
Menos para mim.
Mas quem se importa?


Naianara Barbosa / 02-07

O tempo se perdeu


E o passado assim passou
Prendeu-me, riu de mim
Sem nem saber quem sou.

E o futuro assim chegou
Olhou para mim desolado
Me achou antiquado, e sou.

O presente nem parou
Num piscar de olhos me atravessou
E me deu um tapa

“Acorda, garota,
A vida passa”
Ele irritado resmungava.

Que culpa tenho eu?
A vida passa
O tempo passa
A morte para
Volta, gira...
Mas o amor fica.


Naianara Barbosa / 01-07

Como eu...

São linhas mal traçadas
Tortas, desgarradas
Que como eu, insistem em se encontrar
Ou procuram chances de se salvar

São lágrimas
Derramadas sem pudor
Que como eu, insistem em cair
Ou ficam presas num olhar

São sorrisos
Mostrados sem vergonha
Que como eu, escondem suas dores
Ou prendem seus rancores

São palavras
Jogadas no mar da verdade
Que como eu, não revelam não metade
Ou vivem em busca de amores.


Naianara Barbosa / 01-07

Sofrerei 10 mil vezes, mas amarei


E tudo que
Um dia foi feito
São lembranças do que não foi

Pudera eu
Evitar o sofrimento
Não sentir a agonia
Não chorar pelo lamento

Pudera eu
RECOMEÇAR!
Ter uma nova chance
E saber aproveitar

Pudera eu sorrir
Sem nada a esconder
Ser feliz sem saber
Pudera eu!

Mas tolo como sou
Esqueceria disso tudo
E amaria novamente.


Naianara Barbosa / 01-07

Serei! Ou não?


Sou
Não sou
Era, talvez
Quis ser!
Quem sabe, serei...
Não sei

Uma rosa
Uma lagrima
Uma poesia
Uma dor
Um ninguém...

Ou até mesmo
O amor de alguém.


Naianara Barbosa / 01-07

domingo, 1 de julho de 2012

A dor do poeta


Se todo poeta sente dor
Tem rancor, é sofredor
Por amor, que horror!
Deixe que ele escreva.

Se todo poeta sorri
Esta ali, distante de si
Preso em ti, sem mais
Deixe que ele escreva

Descobriu o tal poeta
Que é vivo o papel
E cada lágrima sentida, cada palavra recolhida
É só um verso a mais, é o seu verso a mais

Sente no fundo do peito
Que o que escreve não tem medo
Nem receio, nem culpa, nem jeito
É aquilo ali, sem mais interpretações

Rodeios já não bastam
Suas inquietações não lhe calam
Seus gritos são ecoados no quarto vazio
E voltam como um soco na alma

Que lhe tira a calma
Saca a arma
Veste a capa
Monta a guarda e começa a escrever...

De novo.

E ali ele chora, desaba
Deságua, desmarca sua quietude de ser
E olha aquelas palavras indignado
Como pode um só homem ter tanto poder

E na vã tentativa de entender sua dor
O cara sofredor que ali esteve sentado
Deitado, jogado, largado, amargurado
Se prende ao que um riso traz... lembranças, apenas, meu caro rapaz.

Naianara Barbosa

domingo, 24 de junho de 2012

João Sem-mãe.


Sabe-se lá quem o colocou no mundo, uma desconhecida qualquer. Desde os 7 anos se vira sozinho, nunca teve o cuidado de uma mãe. É, vamos chamá-lo assim, João Sem-mãe. Seria ele feliz?
Nada se sabe de João, apenas que ele deixa rastro por onde passa. Sim, ele tenta passar para as pessoas o que ele não teve. João poderia muito bem ir para a vida de roubo, de violência... e tudo indicava para isso, mas não, ele preferiu ir para o sorriso. O que ele era? O Palhaço João Sem-mãe. Ele não contava sua história, apenas ia e fazia as pessoas rirem. E rirem da sua realidade. Ele transformou a sua vida numa comédia, mesmo sendo a mais triste que se pode imaginar.
Era o dia de mais um show de João, dessa vez num hospital de crianças. Ele queria isso, queria fazer algumas crianças rirem apesar do seu sofrimento e dificuldade, até porque ele não teve quem fizesse isso por ele, e ele sabe como isso foi ruim. Chegou no hospital e passou por todos com sua comum calça jeans e camisa três quartos branca, foi se arrumar. Pintou o rosto, peruca, roupa colorida, e o mais querido nariz de palhaço. Se olhou no espelho e sorriu para si mesmo. Entrou no quarto das crianças e todas olharam para ele, ficou aquele silencio cheio de perguntas, até que uma criança na ultima cama, enrolada no seu lençol branco deixou escapar: - O médico disse que você é o palhaço João Sem-mãe. Porque você tem esse nome?
João sorriu de novo.
- Então, deixa eu contar... Eu era um bebê à 28 anos atrás, e como todos vocês eu vim numa cegonha também. Só que quando eu nasci todas as suas mães já tinham os seus filhinhos e aí não sobrou nenhuma pra mim. Aí eu cresci assim, sozinho. Eu não tinha nem nome! Aí um dia um moço me parou e perguntou qual era o meu nome, eu disse que não sabia. Ele perguntou se eu tinha mãe, eu balancei a cabeça assim. – João balança a cabeça negativamente e muito rápido, fazendo as crianças rirem. – E o moço disse que eu tinha cara de João. Que eu era o João Sem-mãe.
As crianças ficaram caladas imaginando como teria sido a cena, algumas abraçadas com seus ursos de pelúcia, outras olhando para cima e algumas olhando para o João. Passado alguns minutos ele começou a fazer brincadeiras que faziam as crianças rirem. João então falou:
- Oh, pequenos palhacinhos,  tá na hora do tio João ir.
Vários “aaaah” foram ouvidos, seguidos de carinhas tristes que pediam que ele continuasse lá. João contou mais uma história e quando conseguiu se despedir das crianças e virou-se para ir embora, ouviu uma criança perguntar:
- Tio João, você é feliz?
João parou. Não, dessa vez ele não sorriu. Sua infância veio toda á tona, a falta de interesse da sua mãe, o seu pai desconhecido, o jeito que ele levara a vida. Ele tinha sido feliz? Ele sabia o que era ser feliz? Ele não sabia responder essas perguntas nem para ele mesmo, como responderia para aquela criança que, apreensiva, esperava uma resposta? Ele se virou devagar, olhou nos olhos da criança e disse:
- Quando eu faço outra pessoa feliz, eu fico feliz. Eu te fiz feliz hoje?
O garotinho balançou a cabeça rapidamente, afirmando e sorrindo. E João continuou:
- Então. Se eu te fiz feliz, eu também fiquei feliz. Então não fica triste tá? Senão eu também ficarei. Vocês querem me ver tristes?
Todas as crianças balançaram negativamente a cabeça e João sorriu.
- Então pronto, seremos felizes sempre. Um dando felicidade pro outro, combinado? – João se virou e foi saindo do quarto enquanto as crianças riam e davam tchau para ele.
Chegando no banheiro ele se olhou no espelho por uns longos 10 minutos, em silêncio. Ele era feliz? Ele se perguntava. Ele se olhava. Seu rosto pintado de branco, sua boca com uma tinta vermelha ao redor, uma peruca colorida e o nariz de palhaço. Ah, o nariz de palhaço, ele fixava o seu olhar nele. Depois de tanto se olhar ele molhou o rosto, tirou toda a tinta, a roupa, mas manteve o nariz. O que ele queria? Ele se virou, terminou de se arrumar e quando chegou na porta do banheiro, olhou para trás e quando viu o reflexo no espelho, falou:
- Sim, o João Sem-mãe é feliz. – Sorriu. Por dentro e por fora. Sorriu de verdade. Caminhando pelo hospital, ele tirou o nariz de palhaço e foi andando com uma alma nova... Uma alma verdadeiramente feliz. 


Naianara Barbosa

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Putas não choram


Putas não choram
Não na frente de alguém
Conseguem se esconder dentro das suas mínimas vestes
Anseiam se tornar grandes mulheres

Não, elas não choram
Por mais que sofram, sagrem, ouçam
Morram, corram...
Apesar de tudo, elas não choram

Pudera elas ter a capacidade de chorar
Estão presas, amarradas, acabadas
Suas vidas bagunçadas
Um vendaval dentro de si

E dizer que é tudo culpa de outra pessoa
Seu sofrimento, sua dor
Até sua falta de amor
E por isso desabam

Mas não, não choram
Se mostram fortes
E isso as tornam putas
Negar lágrimas, quem mais além delas?

 E vão vivendo assim
Inundadas dentro de si
Os dias a sorrir, as noites sem dormir
Mas não, chorar não.

Afinal, putas não choram.

Naianara Barbosa

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sou águia, és minha caça

Te caço, te busco
Te procuro pelas ruas
Meus olhos apertados
Espreitando um passo teu

Teu silêncio me toma
Me chama, me ama
Me puxa pra cama
Ele grita: ME COMA!


Ouço-o e sigo
Sem saber onde estás
Aqui, ali, Paris?
Me diz, só me diz

Como águia te caço
Como a algum alimento
Preciso de ti por dentro
Preciso do teu sentimento

Por mais que me chames
Me olhes desamparada
Não encostarei em ti, eu juro
És tão bela assim, intocada

Deixo-te assim
Viva em mim, sorrindo enfim
Num amor puro que se realça
O caçador cuidando da caça.


Naianara Barbosa

terça-feira, 15 de maio de 2012

Era uma vez a paz


Era uma vez Pedro. Era uma vez Paulo.
Paulo tinha 9 anos, Pedro tinha 10. Paulo queria ser médico, Pedro queria ser advogado. Paulo gostava de banana, Pedro de maça. Paulo ouvia todos os tipos de musica, Pedro gostava de ler. Nada compatibilizava, nada tinham em comum.
No meio deles existia um abismo profundo, eles se odiavam. Vivam brigando, nem se olhavam ou então era motivo de briga. Se Paulo olhasse para Pedro, era briga, se Pedro não olhasse para Paulo, era mais uma briga, nada estava bom e a cada dia o abismo só aumentava.
Os anos se passaram e o ódio entre eles crescia conforme a idade ia aumentando, iam surgindo novos problemas e uma reconciliação era algo impensável. Os pais de Paulo não falavam com os pais de Pedro e nem os pais de Pedro falavam com os pais de Paulo porque os filhos deles simplesmente não se gostavam. E isso ia acarretando toda a família. Os tios de um não falavam com os tios do outro, os primos de um não falavam com os primos de outro. Os amigos de um tinham que ser inimigos do outro e isso só se alastrava. A rivalidade entre as famílias era grande, porém, não existia um motivo para isso.
Durante décadas essa briga se alastrou. Pedro já usava armas, Paulo também. Pedro criou um exercito com todos que estavam do lado dele, com mais de dois mil homens. Paulo também. Pedro tinha canhões, Paulo tinha metralhadoras, Pedro tinha bombas que certamente causariam um enorme estrago, Paulo também as possuía. E então, houve a guerra. Depois de tantas provocações durante anos, eles não conseguiram evitar. As pessoas se odiavam, o país tinha se dividido em dois. Tudo por causa de Pedro e Paulo. Então foi construído um muro que dividia o pais em duas partes. A parte de Pedro e a parte de Paulo.
Eles tiveram filhos, netos e bisnetos. A família crescia, e a rivalidade entre elas seguia durante décadas. Eles estavam bem assim.
Certo dia Paulo, com seus 78 anos sentou em um lado do muro e quando olhou para o lado, avistou Pedro. Eles se olharam por um tempo e pensaram no que fizeram durante todos esses anos. Paulo não se tornou médico, muito menos Pedro um advogado. Eles se dedicaram apenas a destruir o outro e acabaram se autodestruindo.  Estavam cansados de tanta rivalidade, e depois de todos os anos passados, houve uma coisa inesperada. Eles sorriram um para o outro. Estavam decididos a acabar com essa rivalidade que nem sequer tinha motivo.
Foi derrubado o muro.
E junto com ele todos os palavrões, todas as indiretas, todos os ataques, todas as ameaças. Eles queriam começar uma nova vida, mesmo que não fosse tão nova assim já que estavam um pouco acima da idade. Mas se eles queriam mudar o futuro, teriam que abandonar o passado e foi isso que eles fizeram. Na frente de todos, da parte de Pedro e da parte de Paulo, todos os filhos, primos, tios, amigos, amigos de amigos, conhecidos, e apenas seguidores que apoiavam a um dos dois, eles se abraçaram.
Se era mudança que eles queriam, teria que partir deles o primeiro passo, e foi isso que fizeram.

Naianara Barbosa 

Matando aos poucos


Dizem que chorar lava a alma. Eu particularmente não concordo. Chorar pra mim não é tão fácil, e se choro é porque realmente estou abalada por algo. Muito abalada. Então esse negocio de lavar a alma não cola. Se você chora, você tem vontade de chorar mais, e mais, e mais, e mais. De se entregar as lágrimas e fazer o que elas quiserem, você se devaneia em banhos de lagrimas salgadas e pesadas que correm pelo seu rosto, soluça e fica sem ar. Você parece uma criança, você se depara realmente como uma criança que apenas anseia pelo colo da mãe para que tudo passe. No entanto, os motivos do choro não são mais doces roubados ou finais de desenhos animados. São pessoas, são ações impensáveis, são palavras ditas que não podem ser voltadas atrás, são olhares que doem. Isso faz você chorar. Ninguém precisa saber das suas lagrimas, ninguém precisa saber o quão forte você é, ou o quão fraca. Deixa isso por sua conta.
Então não vejo isso como um modo de lavar a alma, e sim de destruí-la pouco a pouco. A cada lagrima, uma pequena parte da minha alma vai se apagando, vai sendo tomada pela dor. Acabarei me tornando uma pessoa vazia, na completa ausência de sentimentos, lamentos, tormentos, e todos os outros entos que me doem e me fazem morrer pouco a pouco.


Naianara Barbosa

Desculpe-me


Lembro-me perfeitamente que nessa hora estava te agradecendo. E você falou ao meu ouvido “não agradece não, você merece”. Eu não estava agradecendo por você estar lá, quer dizer, estava também. No entanto, estava falando do nosso passado. Estava agradecendo por todos esses 13 anos, por todos os conselhos, os abraços, as lagrimas, os risos, as fotos, as alugações, as horas de silencio, de provocações, de brigas, até pelas mancadas eu estava agradecendo. Porque sem elas não seriamos o que somos hoje. Crescemos com elas.Porém, acho que ao invés de estar agradecendo, deveria estar de pedindo desculpas naquela hora. Desculpas por não ser a melhor amiga que você um dia desejou, a melhor conselheira. Desculpas por não saber o que falar na hora que devia e ficar vendo você olhar pra mim, esperando você me dar um tapa na cara e dizer “vamos, me diz alguma coisa”, mas eu continuava calada. Desculpas por ter dado minhas muitas mancadas, mas não sou 100% boa, nem 100% correta, você me conhece. Eu erro e muito, e por isso devia te pedir desculpas ao invés de estar te agradecendo. Desculpas por fazer você me aturar durante todos esses anos, desculpas por te amar desde aquela sala no jardim 1, desculpas por me apegar tanto a você e te fazer mal. Desculpas por te atrapalhar e atrapalhar seus planos.Sei que são diversos os motivos que tenho que te pedir desculpas, e outros diversos que tenho para agradecer. Hoje eu não vim pedir conselhos, nem desabafar, nem brigar, só queria que você soubesse que eu sinto nossa falta. Aquela presença de 13 anos que se manteve tão presente está se esvaindo e sei que é por minha causa, e talvez esse seja mais um motivo para te pedir desculpas.


Naianara Barbosa

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Case-se comigo (02)


Eles tinham uma semana de casados. Aquele casamento fez com que ela se sentisse a mulher mais especial do mundo, que homem aceitaria casar com ela sabendo da sua doença e que ela estava crescendo a cada dia? Seus órgãos começaram a ser afetados, sua memória já estava comprometida, ela já não se lembrava de nada por muito tempo. Algumas coisas ela ouvia e cinco minutos depois ela não se lembrava mais, era um caso extremamente difícil.
Ela sofria, sabia que ele não estava bem por causa dela, ele vivia nervoso, com um ar aparentemente preocupado e ela não sabia o que mais podia fazer. Sua doença começara a afetar a vida dele, ele estava perturbado por não poder ter sua mulher para ele. Ela já estava em tempo integrado no hospital, não saia mais de lá. Seu cabelo já tinha caído, o câncer a havia tomado por completo, até o seu cérebro estava comprometido.
Eles estavam conversando no quarto do hospital, ele falava e um tempo depois ela esquecia, ele não sabia mais o que fazer. Começou então a anotar em pequenos pedaços de papel e colar no quarto do hospital para que ela pudesse ler e assim se lembrar. Ela o via nervoso e ficava envergonhada, sabia que era por sua causa.
- Pode desabafar, Robert.
Ele por um momento parou e pensou no que ela tinha falado, até que não aguentou mais e falou:
- Sabe o que é, Marcela, eu casei com você achando que você não teria mais que uma semana de vida. Quando você descobriu sua doença, você me fez prometer que estaria com você sempre e eu me sentiria culpado se não me casasse com você sabendo que a sua vontade sempre foi essa. Não digo que não a amo, mas eu não estava preparado pra casar e eu não estou sabendo lidar com isso. Tá difícil pra você, eu sei, mas você acha que está fácil pra mim? Sei que não sou eu que vou esquecer dessa conversa, é você, porque seu cérebro não é capaz de guardar mais nada do que falo. Eu queria poder injetar um ácido em você ou te sufocar com um travesseiro só para acabar com meu sofrimento e o seu, mas eu sei que não conseguiria fazer isso porque eu realmente gosto de você. Eu só não gosto dessa doença que está fazendo parte da nossa vida, eu a odeio, ela esta te tomando de mim.
Ela olhava com lágrimas nos olhos, quando ele reparou no que tinha acabado de falar, olhou para ela e disse:
- Me desculpa, eu não queria...
- Tudo bem, eu que mandei você desabafar.
As horas passaram, ele foi para o lado de fora e deixou-a no quarto. A médica entrou no quarto:
- Está na hora de fazer seu eletro...
- Sem uma conversa antes?
- O que você quer que eu saiba?
- Você sabe que o Robert pensou em injetar ácido ou me sufocar com um travesseiro para acabar com nosso sofrimento? Sabe que ele se arrepende de ter casado comigo por eu estar doente e não ser a mulher perfeita pra ele? Sabe que ele me falou tantas coisas dizendo que eu iria esquecer e...
- Onde está?
- O que?
- O papel que está escrito isso tudo.
- Não tem papel...
- Você lembrou.
- É, eu lembrei, mas preferia esquecer.
- Vou aqui e volto.
Anna saiu do quarto após o exame com Marcela e procurou Robert.
- Você sabe o que a Marcela me disse?
- O que?
- Que você estava pensando em sufocá-la com um travesseiro ou injetar ácido, isso é coisa que um marido fale para uma esposa com câncer prestes a morrer?
- Você não tem nada com... Ei, ela lembrou disso? Ela lembrou?
Ele saiu correndo e sorrindo foi ao encontro da Marcela, chegando ao quarto 514 do hospital, sentou na cama, alisando o rosto dela e falou:
- Você lembrou, meu amor?
- É, meu cérebro preguiçoso está voltando a funcionar.
- Eu nunca faria nada do que disse com você, eu te amo demais para isso. E vou ficar com você sempre.
Ele a abraçou, ficaram uns minutos assim até que a máquina que estava ligada ao seu corpo começa a fazer um barulho, o seu coração havia parado. Médicos entraram correndo pelo quarto, jogando-o na parede enquanto ligavam a maquina de choque. Após alguns minutos na tentativa de sobrevivência, os médicos pararam. Não havia mais jeito, ela havia morrido.
A culpa o transbordou, ele chorou sentado no chão do quarto, ao lado do corpo dela, de mãos dadas. Ele sabia que a amava, e a cada lagrima a imagem dela vinha a sua cabeça. Ela tinha sido o seu primeiro e único amor.

Naianara Barbosa Melo


terça-feira, 8 de maio de 2012

Case-se comigo




A vida dela não duraria muito e ela sabia disso, ela e todos que conviviam com ela. O câncer a tomava cada vez mais. Ele a amava e chorava só ao lembrar que a perderia em algum tempo, ele precisava dela.
- Se eu disser que tive que uma ideia, você me ajuda? – Ele disse a uma amiga.
- O que é?
- Eu quero casar com a Maah, mesmo sabendo da situação dela.
- Você é louco?
- Eu a amo.
- Tudo bem.
Em dois dias ele planejou um casamento perfeito, o casamento dos sonhos dela. Todos sabiam, menos ela. Ele queria que fosse surpresa. Foi chegado o dia, 06/08/2009. Ela já tinha passado por algumas turbulências na doença e estava no hospital. A amiga foi até ela com um vestido branco e disse que elas iam sair, ela não entendeu muito bem, mas se arrumou e foi.
- Onde estamos indo?
- Você verá, Maah.
Essas foram as únicas palavras, até que pararam na porta de uma igreja. Ela não entendeu muito bem, mas saiu do carro calada e quando chegou na porta da igreja foi entregue a ela um buquê de rosas. Ela ficou parada na porta da igreja sem entender, enquanto sua amiga entrava. Ela olhou pro lado e tinha apenas um recado:
- Pode entrar, meu amor, esse caminho é seu.
Ela foi entrando na igreja e quando se deu conta ele estava parado lá na frente e ela sorriu. Sorriu e foi caminhando ao seu encontro, como se nada mais existisse. No meio do corredor ela se sente tonta e tem uma recaída. Alguns olham preocupados, mas Robert chega e continua caminhando de mãos dadas com ela. Chegando ao altar ela sorrir.
O padre começa a falar e ele olha pra ela radiante, ela estava linda. Por um momento todos se esqueceram da doença que lhes assombrava e perturbava. Todos sofriam por ela. E então o padre diz:
- Algum dos dois tem votos a fazer?
- Não escrevemos nada. – Disse ela, envergonhada.
- Calma, eu tenho. – Ele disse rapidamente. O padre fez sinal com a cabeça e ele começou:
- Hoje é o dia em que minha vida começa, o dia em que nossa vida começa. E eu estou disposto a lidar com qualquer coisa, assumir toda responsabilidade e lutar com toda vontade para que sejamos felizes, meu amor. Eu ainda não acredito que estou aqui te falando isso, não tive muito tempo pra planejar e certamente estou envergonhado, mas o brilho do teu olhar me toma e me dá coragem. É hoje o dia em que deixo de viver para mim e passo a viver para ti, por ti e contigo. Prometo te amar, te respeitar, te ajudar, viver ao seu lado e para todo sempre com você.
- Eu te amo.
E sorriram, e se beijaram delicadamente, ardentemente. Eles estavam dispostos a serem felizes para sempre, mesmo que o destino fizesse com que o “sempre” acabasse antes do planejado.


Naianara Barbosa Melo

sábado, 5 de maio de 2012

O fim



- O que esta fazendo?
- Pensando.
- Sobre o que?
- A vida.
- Que vida?
- Minha vida.
- O que tem ela?
- Não sei, talvez nada.
- Que clichê.
- Minha resposta?
- Nossa conversa.
- Não te chamei aqui.
- Mas eu gosto de estar aqui.
- Porque?
- Coisas clichês me interessam.
- Que tolo.
(silêncio)
- Porque não vai embora?
- Já disse, gosto de estar aqui.
- Eu to cansada.
- Vai descansar.
- Com você aqui?
- Não tem problema. Cuido de ti enquanto dormes.
- É um tolo mesmo.
- Um tolo que quer estar com você sempre.
- KKKKK
- Porque a risada?
- Tudo tem um inicio, um meio e um fim, até o sempre. Quanto tempo esse vai durar?
- Até a eternidade.
- Ela também tem um fim.
- Não precisa ter.
- Como assim?
- É só não deixarmos ter um fim.
(silêncio)
- Vamos num motel?
- Pra que?
- Pra ter um inicio, um meio...
- E o fim?
-  Esse ai a gente decide se vai ser antes ou depois de amanhecer.
- Tá vendo, até isso tem um fim.
- É. Realmente. Mas eu não sei se vai ser o amanhecer de amanhã ou o amanhecer daqui a 30 anos.



 Naianara Barbosa Melo

Glup



A poesia
É um gole de café
Que se toma a cada dia.



Naianara Barbosa Melo

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ladra de corações




11 de Agosto de 2006

Eu tinha 14 anos quando a conheci, quem me apresentou foi um dito “amigo”, ela me fazia sentir algo inexplicável. Ela era bela, suave, me seduzia e me chamava todos os dias. Era segredo, ninguém sabia desse nosso caso, vinha a ser contra as “normas da sociedade” uma garota entrar para “esse mundo”. Passamos a nos encontrar as escondidas todas as noites, eu estava apaixonada por ela, me deliciava em seus braços e me deixava levar para onde quer que fosse. Sim, ela me tirava desse mundo, ela me levava para um lugar totalmente inalcançável, só quem já se apaixonara assim sabe do que eu estou falando. Deixei amigos, abandonei estudos, mudei de vida por ela. Dediquei-me somente a ela, pois ela era tudo que eu precisava.
Passei a pegar coisas de casa, quase matei minha família, era um amor inexplicável o que eu sentia por ela, era uma necessidade irreconhecível. Eu já não tinha vida, minha vida era ela apenas. Vivia para ela e por ela. Hoje tenho 19 anos e estou numa casa de recuperação, internada, sem muitos anos de vida pela frente. Todos esses 5 anos foram vividos para ela e agora ela me abandonou. Estou sozinha. Não tenho família, não tenho amigos, não tenho nem ela. Ela agora deve estar fazendo outra pessoa se apaixonar e enlouquecer por ela – como eu queria poder dizer a essa pessoa que ela o deixará também. –, que cretina. Ela me roubou de mim. O nome dela? C-O-C-A-I-N-A!

Naianara Barbosa Melo

domingo, 29 de abril de 2012

Eu o encontrei... De novo. Ou ele me encontrou?



Passos pesados vinham do fim da rua, latidos de cachorro e uma escuridão assustadora rondavam a minha casa, do meu quarto eu tentava imaginar o que estava acontecendo lá fora.  No entanto, existiam coisas que eu tentava descobrir dentro de mim e essas me perturbavam mais que qualquer coisa. A solidão vinha a fazer parte do meu cotidiano, a falta de motivação tinha se tornado um verdadeiro obstáculo, tinha feito do vazio que habitava em mim uma terceira perna, com ela me encontrava estável. Mas a presença de algo inominável fez com que essa terceira perna se destruísse e a cada passo que eu dava as minhas pernas tremias e meu coração acelerava, eu podia cair a qualquer momento.
Me perdi no meio desses pensamentos e quando me dei conta estavam batendo na porta, me assustei e fui ver quem era, da minha janela eu não via nada, apenas a chuva forte. Perguntei quem era e ninguém respondeu, quem teria batido? Não era hora de brincadeiras, alguém queria algo de mim e eu sabia disso. Caminhei para o meu quarto e quando vi estava lá quem tinha batido na porta, era um cara chamado ‘amor’, ele veio falando que eu tinha deixado ele de lado e que não sabia mais o que ele significava. Não nego, eu o havia deixado a muito tempo atrás, eu o tinha expulsado da minha vida.
“Eu senti saudade” – disse ele.
“Eu não, pode ir embora” – respondi.
Eu não o queria de novo, como se já não bastasse todo sofrimento que tinha vindo antes, como se eu ainda quisesse me por a prova de tudo que pode vir. Meu coração não era mais tão frágil, ele tinha deixado de apanhar e agora só fazia a sua função: Bater. E me deixar viva, consecutivamente.
“Você sabe que precisa de mim” – ele insistia nessa história.
“Não, eu preciso de paz, e quando você estava aqui ela se escondia.” – resmunguei.
“Às vezes o amor traz dor, admito, mas às vezes ele também traz tudo que você procura e que te faz feliz.” – ele continuava a falar.
“Eu não quero essa felicidade. Me deixa.” – eu já estava com um nó na garganta.
Virei de costas e comecei a chorar, sentia sua falta, precisava da tua presença, mas tinha medo do sofrimento. Entre soluços, com as mãos no rosto e banhada de lágrimas, senti um frio inesperado, e ao mesmo tempo uma proteção. Eu tinha esquecido de como era bom tê-lo comigo. Ele me abraçou e passou a noite assim, com seus braços sobre os meus ombros. Eu dormi e ele continuou acordado, quando acordei ele estava me olhando e sorrindo, e disse:
“Eu esperei por essa volta, eu planejei, e ela aconteceu como eu tinha imaginado.”
Olhei pra baixo desconcertada, e ele continuou:
“A partir de hoje, nunca mais te deixarei, mesmo que você me implore. E eu juro, não deixarei mais você sofrer.”
"Me desculpe" – E o abracei. De novo. E ele sorriu.


Naianara Barbosa Melo

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Quem sois vós



Maldita presilha preta que me fez lembrar
Tava tudo arrumado, tudo no lugar
Pra que fui mexer na minha gaveta
Suas coisas ainda estavam lá

Sua ausência me incomodava, o silencio me tomava
A sua falta me afundava numa poça de solidão
Meus pés melados, meu corpo agitado
Gritava e implorava a redenção

Quem sois vós, que me faz sofrer?
Que direito tens de me deixar nu e depois partir?
Se for pra ir, que se vá, mas não deixe suas coisas
Não tire de mim o que eu demorei pra encontrar

Essa luta foi perdida, você ganhou
Levou tudo que precisava e deixou os restos da vida a dois
Continuo a perguntar, quem sois?
Que direito tens de levar o que não cativou?

Ironia do destino, a cada passo genuíno
Que dou sem saber a direção
Me encontro no desencontro de nós dois
E sigo perguntando quais os seus direitos de me tirar de mim...

E quem sois!


Naianara Barbosa Melo

E se eu sumir, não me procure.



Por mais que eu corra, a vontade de continuar não é tão vista. Por mais que eu tente, a fraqueza me toma e eu imploro para que chegue logo ao fim dessa jornada. Cada passo, cada pensamento, cada investida é visando o fim disso tudo, mirando no que eu pretendo chegar. Eu só planejei até ai: Chegar. Depois, sabe-se lá o que pode acontecer, mas hoje eu imploro para que chegue logo. Essa minha rotina me deixa anestesiada e sem vontade pra mais nada, essa minha loucura devaneia em pedaços de sentimentos que se tornaram concretos.
Essa frieza sentimental tornou de mim um escudo ambulante, que se fecha diante de qualquer possibilidade de sofrimento, mas no fundo, a verdade é que meu coração já esta cansado. Ele chora e pede para ser ouvido, mas a quantidade de ventos contrários que existem é muito maior que o som da sua voz. Quando a casa está vazia, quando minha alma está vazia, é quase possível tocar o silêncio. Ele se faz  tão presente que eu o sinto, eu o ouço, algumas vezes até conversamos.
Toda essa minha instabilidade emocional vem de muito tempo, talvez nem sempre intensidade seja bom, ou confiança seja saber como é o nome. Nem tudo na vida são flores, existem inúmeros espinhos, existem assustadores muros de pedra que protegem essas flores, não é tão fácil chegar até elas. Sinto-me presa, a minha vontade de chegar é maior que a minha capacidade de seguir, a minha agonia e desespero vem de algo inominável que me faz querer gritar e sumir.
Olho para os lados e mesmo cheio de gente, não vejo ninguém. Não vejo ninguém porque não conheço ninguém suficiente para tal. Podem até sentir minha falta vez ou outra, mas nada que duas doses de tequila não resolvam, acabei tornando de mim um ser simplesmente substituível. Um dia desses encontrei-me com a lua, e ela me fez ver uma coisa: eu posso sorrir. E meu sorriso pode esconder qualquer coisa, meu sorriso pode ser convincente até demais. Por isso sigo sorrindo por todas as ruelas que se passam e ando me esgueirando por entre os muros de pedra. Sim, eu já sei o que vou fazer depois que eu chegar, eu irei em busca da minha flor. Portanto, se eu sumir... não me procure.

Naianara Barbosa Melo

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aos meus olhos és perfeito



Aos meus olhos
você é negro
você é romântico
você é meigo


Aos meus olhos
você é um plebeu
ao mesmo tempo é rei
no fim você é meu


Você se faz presente
mesmo que ausente
mesmo que nem tente
mesmo que não seja evidente

Só preciso de ti
do teu sorriso, do teu calor
do teu sentimento,
da essência de cada momento

(...) Só preciso do teu amor.





Naianara Barbosa Melo

Uma rosa roubada por amor



Ele disse: O cerco está se fechando, não sei porque meu coração se prende tanto a você. Me sinto tão preso a você, acho que é porque estou apaixonado. Vejo a cada dia que se passa, eu perdendo meu coração, pois você está me roubando tudo, a cada pensamento meu que me leva a você eu sinto que você está ao meu lado, sinto que você precisa de mim, por isso me sinto tão aliviado, pois tudo que sinto por você, minha rosa, é lindo. Me deixa expressar todo o meu medo, amor e indecisão, pois não sei se me entrego ou me deixo levar por esse amor tão puro e singelo que toma todo o meu ser. Por isso tudo que escrevi se resume a uma só frase: "Eu te amo, minha rosa."
Ela disse: Sim, o cerco ta se fechando, está ficando cada vez mais difícil deter o sentimento.A vontade de ti me toma a cada dia e a vontade da sua presença é exacerbada pelas milhões de cores do meu dia. Senta aqui, vem, do meu lado, me conta o que você sente, o que você quer, quem sabe eu retribua. Ah, e se não for pedir muito, pode trazer uma flor roubada de um jardim de margaridas para contemplarmos o por-do-sol.




Naianara Barbosa Melo e Lucas Dantas

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Seu corpo...



Seu corpo me chamava atenção, admito. Todas as vezes que me olhava percorria um calafrio por toda parte de mim e eu sorria desconcertada. Teu sorriso perfeito e brilhante que me fazia perder a razão era tão perfeito. Teus braços musculosos que me abraçavam e me protegiam, me esquentavam, eles eram do tamanho perfeito. Teu peito servia perfeitamente de travesseiro, eu deitava e ficava ouvindo a tua respiração, ouvindo o teu coração e o teu sorrir. 
A sua voz grossa que seduzia, o teu modo de me conquistar, de me chamar, era tudo tão singelo, mesmo sendo voraz. Seus beijos eram quentes, suas mãos eram do tamanho exato para segurar as minhas. Sim, eu estava perdidamente apaixonada por você, não era fácil admitir isso, mas era a verdade. Teu corpo era meu, teu sorriso era meu, você era meu e fazia questão de repetir isso ao meu ouvido me fazendo delirar toda vez. Enfim, você é per(feito) pra mim.

Naianara Barbosa Melo

Ela mudou



Um dia ela acreditou que as pessoas eram sinceras, que não existiam mentiras e que podia confiar em todos. Acreditou também que contar sobre sua vida não era tão ruim e que as pessoas sempre concordariam com ela. No entanto, sempre aparece alguém que faz você sair do mundo perfeito, e foi isso que aconteceu. A julgaram e a excluíram de muitos grupos por simplesmente ser diferente o bastante dos outros, e por contar sobre suas experiências. Aquela imagem do “conto de fada” acabou na hora em que traíram a sua confiança. Nesse sentido ela era inocente sim, e muito besta, diga-se de passagem. Sempre acreditava nas pessoas e esse era o maior problema, mas nada que uma boa dose de “frieza” não resolvesse.
Ela mudou com todos, ela se afastou, ela se fechou. Ninguém mais sabia sobre nada da sua vida e ela estava bem assim. As pessoas estranhavam e não entendiam o motivo da mudança, mas as vezes é assim mesmo, uma só pessoa faz você reconstruir a imagem que tinha de todas. Os seus amigos ela contava no dedo, e os que confiava eram menos ainda, nada cabia. Vivia num vazio considerável e já tinha se acostumado. Chegava em casa e ia pro seu quarto, ouvia suas musicas e nada mais a incomodava. Ela estava bem assim, Zé. Conversar com o espelho até parece loucura para os que tem muitos, mas para ela era uma das melhores companhias. Outros ate tentavam se aproximar, mas ela não dava espaço e sabia muito bem disso. Não era tão fácil confiar nos outros quando um já tinha jogado sua confiança fora, ela vivia desconfiando da verdade, e só acreditava nela mesma.
Não se apoiava em nada e nem ninguém, nem na sua sombra. Até porque ela sumia quando estava no escuro da sua vida, no escuro do seu quarto, no escuro simplesmente. E ia assim, seguindo sempre. Sozinha e em pé, dando um passo de cada vez. O que ela tinha se tornado? Não existia felicidade, não existia amizade, não existia uma realidade utópica. Ela era o que tinha tornado dela, ela era o que ela aprendera a ser. E depois desse choque de realidade, nada mais faria ela voltar a ser a garotinha inocente, burra, desajeitada e feliz de antes.

Naianara Barbosa Melo

Sentimento ou desejo?



Tinha um feitio por morder lábios, se deliciava enquanto puxava com seus dentes os lábios de alguém. Sim, a primeira coisa que ele olhava era a boca, se os lábios o chamassem atenção, ele iria atrás e faria de tudo para prova-los. Isso tudo era no mundo do lado de fora, pois no seu mundo ninguém sabia dessa sua tara por lábios.
Dia comum, marcou para assistir filme com os amigos, coisa que sempre acontecia. Esperava por todos e acabou que só uma amiga foi, ele achou tudo bem e começaram a assistir. Riam e debochavam do filme, até que ficou aquele silencio entre os dois e resultou num beijo. Ele suspirou, respirou, se assustou, nunca imaginara que os lábios dela seriam tão perfeitos, e que cabiam perfeitamente nos seus. Era macio, era delicioso, morder os lábios dela tinha se tornado a coisa mais incrível e mais delicada de todas.
Dai em diante nenhum dos outros lábios lhe bastavam, nenhum se comparava ao dela, ele estava apaixonado. Mas ele se perguntava: por ela ou pelos lábios dela? Era uma pergunta simples, mas lhe faltavam argumentos e pensamentos na hora de responder. Ele acabara se fissurando nos lábios dela e os queria para ele. Os desejava a cada noite, ao acordar, em tudo. Ela já não saia do seu pensamento.
Eles se reencontraram, afinal eram amigos, e os olhos dele brilharam, sua boca secara e sua cabeça já não pensava em mais nada. Ele olhava para ela e só. Se abraçaram e aquele cheiro o delirou, ele não sabia o que fazer, até que:
- Aceita namorar comigo?
As palavras soaram baixas, o que ele tinha acabado de fazer? Era a sua vontade, mas não era a hora certa, ele sabia que ela iria negar, a amizade deles tinha anos, ela o considerava um irmão, que idiota que ele tinha sido, iria tomar um fora da pessoa que mais queria, iria...
- Aceito.
Ela disse com um sorriso no rosto e ele parou, ficou completamente sem reação. Ela havia aceitado, ele a teria para si. Uma enorme felicidade corria por seu corpo e junto dela um medo terrível. Ele agora era responsável pela felicidade dela, e a sua própria felicidade estava nas suas mãos, e se ele a fizesse sofrer? Pensamentos assim os perturbavam, mas ele não tirava o sorriso do rosto. A tinha conquistado e isso era que importava.
- Eu mal sei cuidar de mim, mas prometo cuidar de você.
E sorriu desconcertado, olhou pra baixo e fixou o olhar no chão, ela o abraçou e disse:
- Eu estou fazendo isso a muito tempo.
E ficaram lá, abraçados, sorrindo e pensando em como seriam suas vidas de agora em diante. Ela criava planos, ele também, mas nenhum dos dois falara nada... O tempo resolveria a vida deles. 

Naianara Barbosa Melo