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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pudera eu


Pudera eu entrar na sua vida, te fazer minha morada, meu refúgio encoberto de asas transparentes que me acalentam a cada rajada de vento que bate com fúria na janela. Pudera eu entrar na sua vida, te convencer que o mundo lá fora é assustador, mas que com você ao lado eu enfrento todo o perigo e engulo todo o meu medo para que assim possa te proteger. Sim, eu te protejo pequena meretriz. Pudera eu entrar na sua vida, invadir o teu ego e o desarmar, assim você sorriria para mim sem ter o que temer. Despejaria suas antigas lágrimas no calabouço e jamais as deixaria cair novamente, seria o teu fiel companheiro, ao menos até que aparecesse outro que te despertasse a mesma paixão e consecutivamente tu me deixaste a plantar essa flor sozinho. Pudera eu entrar na sua vida, te fazer divina e não te deixar despencar do céu. Fazer-te arcanjo para que toques a harpa dos deuses no pé da cama e me faça adormecer ao som melodioso da tua serena voz. Mas, por enquanto, fico cá no meu canto, apenas repetindo num sussurro “pudera eu entrar na sua vida...”

Naianara Barbosa 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Não é a primeira vez que me sinto assim


Estou morto. Morto literalmente, meu coração já não bate e o que vejo é a total e inebriante escuridão que reflete o que eu era por dentro. Já estava morto há muito tempo. Mas antes de ir-me para não sei onde, quero contar-lhe a minha longa e entorpecida vida. Não tenho muito tempo, serei breve como uma brisa que passa e arrasta o que um dia você achou ser seu, e o leva para sempre. Desde o inicio sorri forçadamente para todos a minha volta, beijei de brincadeira uma garota só, por 37 anos, o casamento não foi o pior dos temores, no entanto, nunca chamarei isso de dádiva. Disse o comum “obrigado” “obrigado” ao bater cartão numa dessas empresas chulas de mercado, o meu desamor pelo mundo era inexplicável e imensurável. Cultivei flores de plástico por décadas a fim de manter um jardim o qual chamam de corpo humano em andamento, para que ele não parasse de funcionar tão cedo, dormia dopado dessas minhas flores toda noite e, indiscutivelmente, grande parte do dia. Nadei na parte rasa de todo o oceano que esteve a minha frente, por medo dos perigos que havia de enfrentar caso ultrapassasse o meu limite pessoal, o medo sempre esteve me acompanhando. E então fechei os olhos pela ultima vez, hoje, mas te confesso que nunca os abri de verdade.

Naianara Barbosa

A bel prazer



Eu também não entendia. Tinha tudo para ser um cara auto suficiente e resolveu se apaixonar. Que mole, mano, que mole. Agora fica ai sozinho, trancado numa caixa preta dentro do armário, chamada lembrança. Passa seus dias jogado, a bel favor do tempo, pensando em como podia ter se deixado levar. Sentia um vazio profundo, um medo do mundo, queria se reerguer e não conseguia nem sequer colocar os pés no chão. Como você foi cair nessa? Ela foi embora e você ficou. Ficou com todos os pedaços mal armados do quebra cabeça incompleto dessa história, ficou com todas as telas pintadas com paisagens naturais e ornamentais em quais vocês desejaram ir juntos e se amar, ficou com todos os planos mal traçados que foram abandonados ao virar a esquina e nem sequer olhar pra trás. Você ficou a verdade é essa. Você ficou, você parou no tempo onde o amor de vocês era suficiente para manter os dois juntos. E esse tempo já não existe mais, esse tempo passou, ela passou, a vida passou, você ficou, acabou.

Naianara Barbosa