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domingo, 5 de agosto de 2012

A casinha


Minha infância teve lá suas muitas aventuras. No lugar que eu morava tinha umas casas que estavam abandonadas e como toda criança, existia a curiosidade de ir lá. Passei então a frequentar aqueles lugares com uma amiguinha sempre que saíamos para brincar, e assim apareciam diversas conversas e desejos como “ah, a amarela é minha” “não, eu disse que a amarela era minha primeiro” “então tá, a minha é a azul com um jardim na frente”, e assim ia seguindo os dias, e a cada dia a vontade de ter uma daquelas casas aumentava, era quase um sonho de uma garota inocente. Nunca tínhamos ido até o fim da rua e um certo dia resolvemos ir até lá. Atrás de algumas casas, bem lá no fundo, existia uma casinha que chamou minha atenção. Minha amiguinha olhava para os enormes casarões e dizia que moraríamos juntas, mas eu prestava atenção naquela casinha lá, eu queria morar nela e ter ela só pra mim, pra poder ter minha família e minha vida ali. Pedi então a minha amiguinha para vigiar a rua, que era deserta, mas que de vez em quando passava alguém correndo, ou alguns carros, para que ninguém reclamasse por eu estar de certa forma “invadindo” aquela casinha. Passei pelo portão de madeira sem nem encostar nele para não fazer ruído, me espremendo contra mim mesma para que nem a casinha e nem o que a cercava me percebesse ali. Quando consegui entrar, meus olhos brilharam. Eu estava em silêncio, meu corpo suava. Era eu e a casinha, só. Eu fechei os olhos e imaginei minha vida com ela, seria perfeita. Mas como eu teria aquela casinha pra mim? Eu era apenas uma criança. Quando abri os olhos vi uma flor na frente da casinha, aquela flor cresceu mesmo com todo sacrifício. Fui embora. Passei a voltar todos os dias naquela casinha, sozinha ou acompanhada da minha amiguinha, parecia que ela sentia ciúme da casinha, que bobeira. Eu cuidei daquela flor, era como o mais lindo sorriso que eu poderia ter visto em algum lugar. Eu reguei aquela flor para que ela crescesse como quisesse, e ela foi crescendo. Eu cuidava daquela flor como se fosse minha, mas a cada dia eu tinha que tomar mais cuidado, alguma pessoas já tinham percebido minha presença diária na casinha. Algumas não falavam nada e diziam que era linda a minha preocupação com a casinha e a flor, já outras diziam que isso tava errado. Eu não ligava, eu só queria o bem da minha flor, eu só queria viver na casinha. A cada dia que eu chegava lá, meu coração disparava, minhas pernas bambeavam, eu chegava com tanta vontade de ver a minha flor que o portão já não me importava mais, eu só queria estar ali. Minhas mãos tremiam quando eu ia regar a minha flor, ela era tão frágil, mas tão forte ao mesmo tempo, eu a admirava, eu a amava com tudo de mais puro que eu tinha. Eu tive que me afastar da minha flor, e eu sentia saudade dela todos os dias, todas as horas. Que criança sentiria algo assim por uma flor? Uma flor comum? Mas aquela não era uma flor comum, era minha flor. E eu cuidava dela como se fosse parte de mim. Eu passava horas deitada ao lado dela calada, apenas olhando para ela, eu fechava os olhos ali deitada e sonhava. Ao acordar corria pra casa, mas minha flor ainda estava no meu pensamento, ela nunca saiu de lá desde o primeiro momento. Eu era a criança que estava disposta a ter aquela flor e aquela casinha pra mim, eu faria de tudo para tê-las. Até onde eu iria por essa casinha? Ao infinito... e além!


Naianara Melo

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