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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Sou águia, és minha caça

Te caço, te busco
Te procuro pelas ruas
Meus olhos apertados
Espreitando um passo teu

Teu silêncio me toma
Me chama, me ama
Me puxa pra cama
Ele grita: ME COMA!


Ouço-o e sigo
Sem saber onde estás
Aqui, ali, Paris?
Me diz, só me diz

Como águia te caço
Como a algum alimento
Preciso de ti por dentro
Preciso do teu sentimento

Por mais que me chames
Me olhes desamparada
Não encostarei em ti, eu juro
És tão bela assim, intocada

Deixo-te assim
Viva em mim, sorrindo enfim
Num amor puro que se realça
O caçador cuidando da caça.


Naianara Barbosa

terça-feira, 15 de maio de 2012

Era uma vez a paz


Era uma vez Pedro. Era uma vez Paulo.
Paulo tinha 9 anos, Pedro tinha 10. Paulo queria ser médico, Pedro queria ser advogado. Paulo gostava de banana, Pedro de maça. Paulo ouvia todos os tipos de musica, Pedro gostava de ler. Nada compatibilizava, nada tinham em comum.
No meio deles existia um abismo profundo, eles se odiavam. Vivam brigando, nem se olhavam ou então era motivo de briga. Se Paulo olhasse para Pedro, era briga, se Pedro não olhasse para Paulo, era mais uma briga, nada estava bom e a cada dia o abismo só aumentava.
Os anos se passaram e o ódio entre eles crescia conforme a idade ia aumentando, iam surgindo novos problemas e uma reconciliação era algo impensável. Os pais de Paulo não falavam com os pais de Pedro e nem os pais de Pedro falavam com os pais de Paulo porque os filhos deles simplesmente não se gostavam. E isso ia acarretando toda a família. Os tios de um não falavam com os tios do outro, os primos de um não falavam com os primos de outro. Os amigos de um tinham que ser inimigos do outro e isso só se alastrava. A rivalidade entre as famílias era grande, porém, não existia um motivo para isso.
Durante décadas essa briga se alastrou. Pedro já usava armas, Paulo também. Pedro criou um exercito com todos que estavam do lado dele, com mais de dois mil homens. Paulo também. Pedro tinha canhões, Paulo tinha metralhadoras, Pedro tinha bombas que certamente causariam um enorme estrago, Paulo também as possuía. E então, houve a guerra. Depois de tantas provocações durante anos, eles não conseguiram evitar. As pessoas se odiavam, o país tinha se dividido em dois. Tudo por causa de Pedro e Paulo. Então foi construído um muro que dividia o pais em duas partes. A parte de Pedro e a parte de Paulo.
Eles tiveram filhos, netos e bisnetos. A família crescia, e a rivalidade entre elas seguia durante décadas. Eles estavam bem assim.
Certo dia Paulo, com seus 78 anos sentou em um lado do muro e quando olhou para o lado, avistou Pedro. Eles se olharam por um tempo e pensaram no que fizeram durante todos esses anos. Paulo não se tornou médico, muito menos Pedro um advogado. Eles se dedicaram apenas a destruir o outro e acabaram se autodestruindo.  Estavam cansados de tanta rivalidade, e depois de todos os anos passados, houve uma coisa inesperada. Eles sorriram um para o outro. Estavam decididos a acabar com essa rivalidade que nem sequer tinha motivo.
Foi derrubado o muro.
E junto com ele todos os palavrões, todas as indiretas, todos os ataques, todas as ameaças. Eles queriam começar uma nova vida, mesmo que não fosse tão nova assim já que estavam um pouco acima da idade. Mas se eles queriam mudar o futuro, teriam que abandonar o passado e foi isso que eles fizeram. Na frente de todos, da parte de Pedro e da parte de Paulo, todos os filhos, primos, tios, amigos, amigos de amigos, conhecidos, e apenas seguidores que apoiavam a um dos dois, eles se abraçaram.
Se era mudança que eles queriam, teria que partir deles o primeiro passo, e foi isso que fizeram.

Naianara Barbosa 

Matando aos poucos


Dizem que chorar lava a alma. Eu particularmente não concordo. Chorar pra mim não é tão fácil, e se choro é porque realmente estou abalada por algo. Muito abalada. Então esse negocio de lavar a alma não cola. Se você chora, você tem vontade de chorar mais, e mais, e mais, e mais. De se entregar as lágrimas e fazer o que elas quiserem, você se devaneia em banhos de lagrimas salgadas e pesadas que correm pelo seu rosto, soluça e fica sem ar. Você parece uma criança, você se depara realmente como uma criança que apenas anseia pelo colo da mãe para que tudo passe. No entanto, os motivos do choro não são mais doces roubados ou finais de desenhos animados. São pessoas, são ações impensáveis, são palavras ditas que não podem ser voltadas atrás, são olhares que doem. Isso faz você chorar. Ninguém precisa saber das suas lagrimas, ninguém precisa saber o quão forte você é, ou o quão fraca. Deixa isso por sua conta.
Então não vejo isso como um modo de lavar a alma, e sim de destruí-la pouco a pouco. A cada lagrima, uma pequena parte da minha alma vai se apagando, vai sendo tomada pela dor. Acabarei me tornando uma pessoa vazia, na completa ausência de sentimentos, lamentos, tormentos, e todos os outros entos que me doem e me fazem morrer pouco a pouco.


Naianara Barbosa

Desculpe-me


Lembro-me perfeitamente que nessa hora estava te agradecendo. E você falou ao meu ouvido “não agradece não, você merece”. Eu não estava agradecendo por você estar lá, quer dizer, estava também. No entanto, estava falando do nosso passado. Estava agradecendo por todos esses 13 anos, por todos os conselhos, os abraços, as lagrimas, os risos, as fotos, as alugações, as horas de silencio, de provocações, de brigas, até pelas mancadas eu estava agradecendo. Porque sem elas não seriamos o que somos hoje. Crescemos com elas.Porém, acho que ao invés de estar agradecendo, deveria estar de pedindo desculpas naquela hora. Desculpas por não ser a melhor amiga que você um dia desejou, a melhor conselheira. Desculpas por não saber o que falar na hora que devia e ficar vendo você olhar pra mim, esperando você me dar um tapa na cara e dizer “vamos, me diz alguma coisa”, mas eu continuava calada. Desculpas por ter dado minhas muitas mancadas, mas não sou 100% boa, nem 100% correta, você me conhece. Eu erro e muito, e por isso devia te pedir desculpas ao invés de estar te agradecendo. Desculpas por fazer você me aturar durante todos esses anos, desculpas por te amar desde aquela sala no jardim 1, desculpas por me apegar tanto a você e te fazer mal. Desculpas por te atrapalhar e atrapalhar seus planos.Sei que são diversos os motivos que tenho que te pedir desculpas, e outros diversos que tenho para agradecer. Hoje eu não vim pedir conselhos, nem desabafar, nem brigar, só queria que você soubesse que eu sinto nossa falta. Aquela presença de 13 anos que se manteve tão presente está se esvaindo e sei que é por minha causa, e talvez esse seja mais um motivo para te pedir desculpas.


Naianara Barbosa

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Case-se comigo (02)


Eles tinham uma semana de casados. Aquele casamento fez com que ela se sentisse a mulher mais especial do mundo, que homem aceitaria casar com ela sabendo da sua doença e que ela estava crescendo a cada dia? Seus órgãos começaram a ser afetados, sua memória já estava comprometida, ela já não se lembrava de nada por muito tempo. Algumas coisas ela ouvia e cinco minutos depois ela não se lembrava mais, era um caso extremamente difícil.
Ela sofria, sabia que ele não estava bem por causa dela, ele vivia nervoso, com um ar aparentemente preocupado e ela não sabia o que mais podia fazer. Sua doença começara a afetar a vida dele, ele estava perturbado por não poder ter sua mulher para ele. Ela já estava em tempo integrado no hospital, não saia mais de lá. Seu cabelo já tinha caído, o câncer a havia tomado por completo, até o seu cérebro estava comprometido.
Eles estavam conversando no quarto do hospital, ele falava e um tempo depois ela esquecia, ele não sabia mais o que fazer. Começou então a anotar em pequenos pedaços de papel e colar no quarto do hospital para que ela pudesse ler e assim se lembrar. Ela o via nervoso e ficava envergonhada, sabia que era por sua causa.
- Pode desabafar, Robert.
Ele por um momento parou e pensou no que ela tinha falado, até que não aguentou mais e falou:
- Sabe o que é, Marcela, eu casei com você achando que você não teria mais que uma semana de vida. Quando você descobriu sua doença, você me fez prometer que estaria com você sempre e eu me sentiria culpado se não me casasse com você sabendo que a sua vontade sempre foi essa. Não digo que não a amo, mas eu não estava preparado pra casar e eu não estou sabendo lidar com isso. Tá difícil pra você, eu sei, mas você acha que está fácil pra mim? Sei que não sou eu que vou esquecer dessa conversa, é você, porque seu cérebro não é capaz de guardar mais nada do que falo. Eu queria poder injetar um ácido em você ou te sufocar com um travesseiro só para acabar com meu sofrimento e o seu, mas eu sei que não conseguiria fazer isso porque eu realmente gosto de você. Eu só não gosto dessa doença que está fazendo parte da nossa vida, eu a odeio, ela esta te tomando de mim.
Ela olhava com lágrimas nos olhos, quando ele reparou no que tinha acabado de falar, olhou para ela e disse:
- Me desculpa, eu não queria...
- Tudo bem, eu que mandei você desabafar.
As horas passaram, ele foi para o lado de fora e deixou-a no quarto. A médica entrou no quarto:
- Está na hora de fazer seu eletro...
- Sem uma conversa antes?
- O que você quer que eu saiba?
- Você sabe que o Robert pensou em injetar ácido ou me sufocar com um travesseiro para acabar com nosso sofrimento? Sabe que ele se arrepende de ter casado comigo por eu estar doente e não ser a mulher perfeita pra ele? Sabe que ele me falou tantas coisas dizendo que eu iria esquecer e...
- Onde está?
- O que?
- O papel que está escrito isso tudo.
- Não tem papel...
- Você lembrou.
- É, eu lembrei, mas preferia esquecer.
- Vou aqui e volto.
Anna saiu do quarto após o exame com Marcela e procurou Robert.
- Você sabe o que a Marcela me disse?
- O que?
- Que você estava pensando em sufocá-la com um travesseiro ou injetar ácido, isso é coisa que um marido fale para uma esposa com câncer prestes a morrer?
- Você não tem nada com... Ei, ela lembrou disso? Ela lembrou?
Ele saiu correndo e sorrindo foi ao encontro da Marcela, chegando ao quarto 514 do hospital, sentou na cama, alisando o rosto dela e falou:
- Você lembrou, meu amor?
- É, meu cérebro preguiçoso está voltando a funcionar.
- Eu nunca faria nada do que disse com você, eu te amo demais para isso. E vou ficar com você sempre.
Ele a abraçou, ficaram uns minutos assim até que a máquina que estava ligada ao seu corpo começa a fazer um barulho, o seu coração havia parado. Médicos entraram correndo pelo quarto, jogando-o na parede enquanto ligavam a maquina de choque. Após alguns minutos na tentativa de sobrevivência, os médicos pararam. Não havia mais jeito, ela havia morrido.
A culpa o transbordou, ele chorou sentado no chão do quarto, ao lado do corpo dela, de mãos dadas. Ele sabia que a amava, e a cada lagrima a imagem dela vinha a sua cabeça. Ela tinha sido o seu primeiro e único amor.

Naianara Barbosa Melo


terça-feira, 8 de maio de 2012

Case-se comigo




A vida dela não duraria muito e ela sabia disso, ela e todos que conviviam com ela. O câncer a tomava cada vez mais. Ele a amava e chorava só ao lembrar que a perderia em algum tempo, ele precisava dela.
- Se eu disser que tive que uma ideia, você me ajuda? – Ele disse a uma amiga.
- O que é?
- Eu quero casar com a Maah, mesmo sabendo da situação dela.
- Você é louco?
- Eu a amo.
- Tudo bem.
Em dois dias ele planejou um casamento perfeito, o casamento dos sonhos dela. Todos sabiam, menos ela. Ele queria que fosse surpresa. Foi chegado o dia, 06/08/2009. Ela já tinha passado por algumas turbulências na doença e estava no hospital. A amiga foi até ela com um vestido branco e disse que elas iam sair, ela não entendeu muito bem, mas se arrumou e foi.
- Onde estamos indo?
- Você verá, Maah.
Essas foram as únicas palavras, até que pararam na porta de uma igreja. Ela não entendeu muito bem, mas saiu do carro calada e quando chegou na porta da igreja foi entregue a ela um buquê de rosas. Ela ficou parada na porta da igreja sem entender, enquanto sua amiga entrava. Ela olhou pro lado e tinha apenas um recado:
- Pode entrar, meu amor, esse caminho é seu.
Ela foi entrando na igreja e quando se deu conta ele estava parado lá na frente e ela sorriu. Sorriu e foi caminhando ao seu encontro, como se nada mais existisse. No meio do corredor ela se sente tonta e tem uma recaída. Alguns olham preocupados, mas Robert chega e continua caminhando de mãos dadas com ela. Chegando ao altar ela sorrir.
O padre começa a falar e ele olha pra ela radiante, ela estava linda. Por um momento todos se esqueceram da doença que lhes assombrava e perturbava. Todos sofriam por ela. E então o padre diz:
- Algum dos dois tem votos a fazer?
- Não escrevemos nada. – Disse ela, envergonhada.
- Calma, eu tenho. – Ele disse rapidamente. O padre fez sinal com a cabeça e ele começou:
- Hoje é o dia em que minha vida começa, o dia em que nossa vida começa. E eu estou disposto a lidar com qualquer coisa, assumir toda responsabilidade e lutar com toda vontade para que sejamos felizes, meu amor. Eu ainda não acredito que estou aqui te falando isso, não tive muito tempo pra planejar e certamente estou envergonhado, mas o brilho do teu olhar me toma e me dá coragem. É hoje o dia em que deixo de viver para mim e passo a viver para ti, por ti e contigo. Prometo te amar, te respeitar, te ajudar, viver ao seu lado e para todo sempre com você.
- Eu te amo.
E sorriram, e se beijaram delicadamente, ardentemente. Eles estavam dispostos a serem felizes para sempre, mesmo que o destino fizesse com que o “sempre” acabasse antes do planejado.


Naianara Barbosa Melo

sábado, 5 de maio de 2012

O fim



- O que esta fazendo?
- Pensando.
- Sobre o que?
- A vida.
- Que vida?
- Minha vida.
- O que tem ela?
- Não sei, talvez nada.
- Que clichê.
- Minha resposta?
- Nossa conversa.
- Não te chamei aqui.
- Mas eu gosto de estar aqui.
- Porque?
- Coisas clichês me interessam.
- Que tolo.
(silêncio)
- Porque não vai embora?
- Já disse, gosto de estar aqui.
- Eu to cansada.
- Vai descansar.
- Com você aqui?
- Não tem problema. Cuido de ti enquanto dormes.
- É um tolo mesmo.
- Um tolo que quer estar com você sempre.
- KKKKK
- Porque a risada?
- Tudo tem um inicio, um meio e um fim, até o sempre. Quanto tempo esse vai durar?
- Até a eternidade.
- Ela também tem um fim.
- Não precisa ter.
- Como assim?
- É só não deixarmos ter um fim.
(silêncio)
- Vamos num motel?
- Pra que?
- Pra ter um inicio, um meio...
- E o fim?
-  Esse ai a gente decide se vai ser antes ou depois de amanhecer.
- Tá vendo, até isso tem um fim.
- É. Realmente. Mas eu não sei se vai ser o amanhecer de amanhã ou o amanhecer daqui a 30 anos.



 Naianara Barbosa Melo

Glup



A poesia
É um gole de café
Que se toma a cada dia.



Naianara Barbosa Melo

terça-feira, 1 de maio de 2012

Ladra de corações




11 de Agosto de 2006

Eu tinha 14 anos quando a conheci, quem me apresentou foi um dito “amigo”, ela me fazia sentir algo inexplicável. Ela era bela, suave, me seduzia e me chamava todos os dias. Era segredo, ninguém sabia desse nosso caso, vinha a ser contra as “normas da sociedade” uma garota entrar para “esse mundo”. Passamos a nos encontrar as escondidas todas as noites, eu estava apaixonada por ela, me deliciava em seus braços e me deixava levar para onde quer que fosse. Sim, ela me tirava desse mundo, ela me levava para um lugar totalmente inalcançável, só quem já se apaixonara assim sabe do que eu estou falando. Deixei amigos, abandonei estudos, mudei de vida por ela. Dediquei-me somente a ela, pois ela era tudo que eu precisava.
Passei a pegar coisas de casa, quase matei minha família, era um amor inexplicável o que eu sentia por ela, era uma necessidade irreconhecível. Eu já não tinha vida, minha vida era ela apenas. Vivia para ela e por ela. Hoje tenho 19 anos e estou numa casa de recuperação, internada, sem muitos anos de vida pela frente. Todos esses 5 anos foram vividos para ela e agora ela me abandonou. Estou sozinha. Não tenho família, não tenho amigos, não tenho nem ela. Ela agora deve estar fazendo outra pessoa se apaixonar e enlouquecer por ela – como eu queria poder dizer a essa pessoa que ela o deixará também. –, que cretina. Ela me roubou de mim. O nome dela? C-O-C-A-I-N-A!

Naianara Barbosa Melo