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terça-feira, 27 de novembro de 2012

A aurora da filosofia grega


Nada fazia sentido, os amores não correspondidos eram como folhas que caiam no outono. De longe os pássaros cantavam baixo, no frio da noite em que se escondiam e cantarolavam para espantar as possíveis – e ferozes – mágoas. E ficavam ali até o amanhecer, e viam o sol nascer. Voando rumo ao horizonte, esqueciam-se da noite passada e retomavam suas alegrias. E a noite, outra árvore os recolhia. O escuro despertava pavor, mas não mais, agora eles se agarram e se acham ali, no tom mais tenebroso das 24 horas, fugindo dos deuses e ansiando pelo novo raiar.

Naianara Barbosa

Os (não tão) imperceptíveis movimentos da terra


Era manhã cinzenta e o sol já não aparecia a dias. Levantara então da cama e o café estava posto, seu pão integral e café puro, ainda quente. O tão conhecido recado na geladeira estava preso por um ímã de coração. Ele pegou a xícara de café e leu em voz alta: “Querido, cá estou eu falando por recados de novo, perdoe-me. Preciso comprar coisas. Não fique bravo, em poucas horas estarei ao teu lado. Com amor, Mel.”. Ele sorriu e sentou-se na mesa, lá tinha um outro bilhete que dizia “Construção de uma casinha...”, e com os lábios molhados de café, pensou: “Afinal, a minha casinha completa a dela.”. Ele sempre dissera que iria deixar o mundo dar suas próprias voltas, e foi numa dessas voltas que ele a encontrou, e a amou... E dali em diante ele sabia que seu mundo não daria mais volta nenhuma, se não estivesse colado ao dela.

Naianara Barbosa

Acordo inútil, merda


Fiz então um acordo com a dor: Trocamos de lugar. Eu te faço mal agora, eu te faço chorar, eu te faço enlouquecer dentro de si. Ela riu de mim e disse que não fazia tão mal assim a ninguém, mas aceitou.
Três dias foram suficientes para que ela se arrependesse de ter aceito. Ela implorou para me fazer desistir de manter o desafio, para voltar ao seu lugar. Ela se ajoelhou e chorou, e se arrastou pelos cacos no chão, grudada aos meus pés. Olhei ela e senti – não sede de vingança – mas, pena. Aquelas dores eram minhas, ela não precisava senti-las, apenas eu. Então troquei os papéis de novo. Voltei a sentir minhas próprias dores, e vi a dona Dor ir embora, sem sentir nada, fazendo apenas o seu papel: Machucar a vida das outras pessoas, mas não a dela. Não, a dela não. E, eu bem sei, ela nunca mais aceitaria nenhum desafio.

              – Fiz então um acordo como sorriso: Apareça, meu querido, apesar de qualquer coisa.

Naianara Barbosa