Páginas

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Clichês ainda existem

Houve o tempo em que o amor era o clichê necessário, era a melancolia que todo mundo buscava. Que a poesia era bela, ainda que redundante; que os sonetos eram esplendentes e as pequenas e velhas rimas tiravam sorrisos memoráveis. Versos livres, com receio de serem descobertos, de serem flagrados a beira do precipício em que estavam prestes a se jogar, para que as palavras caíssem de tal forma que fizessem um estrondo no mundo e assim tocasse a todos. As borboletas saíram dos estômagos e se diluíram em meio a névoa que tomou conta dos corações, as sombras se escondem por estarem tão sós, mesmo em meio à claridade ofuscante dos poucos olhos ainda apaixonados. Talvez num ímpeto eu prefira me calar e observar tudo aqui sucumbir, ou talvez, quem sabe, alcançarei tua imagem que está suspensa sob a minha cabeça. Esticar-me-ei até que toques em ti, mesmo sabendo que foges, meu bem, me arrastarei e acolher-me-ei em teus braços, porque só eles me entendem, só eles são o abismo pelo qual me jogarei. O precipício é apenas uma causa, e quero ser a tua assim como és a minha. Só você pode me tirar da escuridão que o mundo tornou-se. Prefiro ao meu particular que ao mundo particular de todo o resto. A esse lugar em que habito, peço licença para me acolher e me guardar, porque infelizmente ele tornou-se um ambiente para “não-amantes”, e não há alguém que ame mais que eu. E ao clichê que era necessário à tempos atrás, ainda necessito que sejam ditos à mim, porque nasci do amor e é dele que irei me desfazer.
Qualquer dia te mandarei flores, tocarei a campainha e ficarei nervosa. Para o amor tem coisa mais clichê que isso? E eu sou um clichê vivo.

Naianara Barbosa.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Pudera eu


Pudera eu entrar na sua vida, te fazer minha morada, meu refúgio encoberto de asas transparentes que me acalentam a cada rajada de vento que bate com fúria na janela. Pudera eu entrar na sua vida, te convencer que o mundo lá fora é assustador, mas que com você ao lado eu enfrento todo o perigo e engulo todo o meu medo para que assim possa te proteger. Sim, eu te protejo pequena meretriz. Pudera eu entrar na sua vida, invadir o teu ego e o desarmar, assim você sorriria para mim sem ter o que temer. Despejaria suas antigas lágrimas no calabouço e jamais as deixaria cair novamente, seria o teu fiel companheiro, ao menos até que aparecesse outro que te despertasse a mesma paixão e consecutivamente tu me deixaste a plantar essa flor sozinho. Pudera eu entrar na sua vida, te fazer divina e não te deixar despencar do céu. Fazer-te arcanjo para que toques a harpa dos deuses no pé da cama e me faça adormecer ao som melodioso da tua serena voz. Mas, por enquanto, fico cá no meu canto, apenas repetindo num sussurro “pudera eu entrar na sua vida...”

Naianara Barbosa 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Não é a primeira vez que me sinto assim


Estou morto. Morto literalmente, meu coração já não bate e o que vejo é a total e inebriante escuridão que reflete o que eu era por dentro. Já estava morto há muito tempo. Mas antes de ir-me para não sei onde, quero contar-lhe a minha longa e entorpecida vida. Não tenho muito tempo, serei breve como uma brisa que passa e arrasta o que um dia você achou ser seu, e o leva para sempre. Desde o inicio sorri forçadamente para todos a minha volta, beijei de brincadeira uma garota só, por 37 anos, o casamento não foi o pior dos temores, no entanto, nunca chamarei isso de dádiva. Disse o comum “obrigado” “obrigado” ao bater cartão numa dessas empresas chulas de mercado, o meu desamor pelo mundo era inexplicável e imensurável. Cultivei flores de plástico por décadas a fim de manter um jardim o qual chamam de corpo humano em andamento, para que ele não parasse de funcionar tão cedo, dormia dopado dessas minhas flores toda noite e, indiscutivelmente, grande parte do dia. Nadei na parte rasa de todo o oceano que esteve a minha frente, por medo dos perigos que havia de enfrentar caso ultrapassasse o meu limite pessoal, o medo sempre esteve me acompanhando. E então fechei os olhos pela ultima vez, hoje, mas te confesso que nunca os abri de verdade.

Naianara Barbosa

A bel prazer



Eu também não entendia. Tinha tudo para ser um cara auto suficiente e resolveu se apaixonar. Que mole, mano, que mole. Agora fica ai sozinho, trancado numa caixa preta dentro do armário, chamada lembrança. Passa seus dias jogado, a bel favor do tempo, pensando em como podia ter se deixado levar. Sentia um vazio profundo, um medo do mundo, queria se reerguer e não conseguia nem sequer colocar os pés no chão. Como você foi cair nessa? Ela foi embora e você ficou. Ficou com todos os pedaços mal armados do quebra cabeça incompleto dessa história, ficou com todas as telas pintadas com paisagens naturais e ornamentais em quais vocês desejaram ir juntos e se amar, ficou com todos os planos mal traçados que foram abandonados ao virar a esquina e nem sequer olhar pra trás. Você ficou a verdade é essa. Você ficou, você parou no tempo onde o amor de vocês era suficiente para manter os dois juntos. E esse tempo já não existe mais, esse tempo passou, ela passou, a vida passou, você ficou, acabou.

Naianara Barbosa

sexta-feira, 22 de março de 2013

Eu sou a sua coisa preferida agora


Ontem eu pedi pra ela parar de ver novela e ler pra mim até eu dormir e ela aceitou sem reclamar. Não bateu o pé, nem chiou. Apenas se levantou, pegou um dos seus textos preferidos - esse que eu mesmo escrevi para ela - e leu para mim. Sua voz alta e serena causavam em mim um milhão de sensações, o calor do teu corpo sentado ao meu lado me fazia fechar os olhos e não temer a escuridão e ao vazio que sempre apareciam quando ela não estava presente, mas ela sempre estava e então eu não tinha mais o que temer. Eu a amava pelo que ela era, e a amava mais ainda por abdicar das suas coisas preferidas por mim. Logo eu, o garoto estrago. Onde todo aquele mal jeito tinha parado? Quando ela tinha ficado pra trás? Eu pensava nessas coisas e ela continuava a ler, com sua voz calma e tranquilizadora, meus olhos se fechando na mesma intensidade dos seus toques no meu cabelo e, vez ou outra, nos meus lábios. E eu adormeci ali, em meio as suas palavras, banhado de amor. Acordei e ali ela estava, deitada ao meu lado, me olhando dormir, abri os olhos e a primeira coisa que vi foi o seu sorriso, seguido de um "bom dia, meu amor". Ergui as sobrancelhas e perguntei porque ela havia deixado de assistir a sua novela - essa mesma, que sempre deixa claro que não troca por nada - para ler para mim e me fazer dormir, ela apenas alisou o meu rosto e disse "você é a minha coisa preferida agora" e então eu sorri.

Naianara Barbosa 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Jaz

Me diz como escrever coisas sem aqueles monótonos clichês que existem a décadas? Sem usar aquelas metáforas já conhecidas e pouco entendidas? Como posso dizer que eu nunca antes havia amado, se nem hoje tenho certeza? Me apaixonei, isso digo com todas as letras, me apaixonei pela mesma pessoa todos os dias e não me arrependo em nenhum deles. E acabou. Eu me detive em meio a um sorriso torto e acenei o braço como se não sentisse algo em relação a tua perda - talvez provisória, talvez eterna. E a cada passo fui me refazendo, com um sorriso em meio a uma lagrima, nem sempre achando uma mão estendida, mas sempre ouvindo comentários como "Tão menino, meu Deus, e já um mundo a sangrar em suas mãos".

Naianara Barbosa

sábado, 5 de janeiro de 2013

Sempre o mesmo remetente


Eu to sentada na varanda da minha casa de praia tentando escrever mais uma carta sem remetente que traduz o que quero falar pra alguém. Traduz o que já ensaiei diversas vezes mais que no final não sai, eu gaguejo, fico sem ar e abaixo a cabeça. Tentei mostrar o melhor lado de mim, mas várias vezes me perguntei se esse lado realmente existia. Eu quis me entregar sem ter o que temer, mas eu não me entreguei, desculpe-me. Não me entreguei por não saber até onde iria. Poderia ser pra sempre e poderia acabar na segunda feira, e eu não estava errada. Prometeu-me a lua, mas foi embora antes do por do sol, querido. Eu fiz tudo o que podia, mas não era o suficiente, não era tão bom quanto eu pensava, ou esperava, ou imaginava. Não era pra ser você. A culpa não foi sua e nem minha, simplesmente não era pra ser. Eu criei cenas que queria viver, mas não conseguia te encaixar nelas, de alguma forma nos combinávamos, porém não nos completávamos. Eu gostei de você, e gostei mais ainda quando você me fez gostar de mim e agradeço por isso. Temos que admitir, tava tudo uma merda. Mas tava uma merda ao seu lado e pra mim podia continuar assim, mas não foi possível, não foi. Sinto dizer, mas as diferenças nem sempre unem as pessoas, as vezes elas só afastam cada vez mais. Essa carta não era pra ter um remetente, mas como todas as outras, ela acabou sendo pra você.

Naianara Barbosa 

Quem não quer ser feliz? Me diz.


Minha manhã? Minha manhã começou assim: Os pés melados de areia e os raios de sol atrapalhando a minha visão. Na madrugada andei e sentei-me na beira da praia, inicialmente estava escuro e passadas algumas horas eis que o sol nasce e tudo se modifica. Não pensava em nada, apenas estava ali olhando o mar. Os raios de sol turvavam a minha visão e enquanto eu andava na beira da praia, as ondas batiam nos meus pés. Admito que aquilo fez com que eu me sentisse livre, como se nada mais pudesse me apreender ou me aprisionar. As ondas batiam nos meus pés e aquilo mostrava que eu podia ir para qualquer lugar a partir dali, porque a liberdade me tomava. Mas algo se debatia dentro de mim, algo ainda sussurrava ao meu ouvido que eu não podia fazer aquilo, pois de nada me adiantaria ser livre e não ser feliz. Faltava algo, faltava a força pra seguir em frente, faltava a mão que eu seguraria, faltava a segurança, faltava o que eu mais precisava. Faltava você. E então voltei e te esperei. Eu quero ser livre, mas antes eu preciso ser feliz. 

Naianara Barbosa