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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Case-se comigo (02)


Eles tinham uma semana de casados. Aquele casamento fez com que ela se sentisse a mulher mais especial do mundo, que homem aceitaria casar com ela sabendo da sua doença e que ela estava crescendo a cada dia? Seus órgãos começaram a ser afetados, sua memória já estava comprometida, ela já não se lembrava de nada por muito tempo. Algumas coisas ela ouvia e cinco minutos depois ela não se lembrava mais, era um caso extremamente difícil.
Ela sofria, sabia que ele não estava bem por causa dela, ele vivia nervoso, com um ar aparentemente preocupado e ela não sabia o que mais podia fazer. Sua doença começara a afetar a vida dele, ele estava perturbado por não poder ter sua mulher para ele. Ela já estava em tempo integrado no hospital, não saia mais de lá. Seu cabelo já tinha caído, o câncer a havia tomado por completo, até o seu cérebro estava comprometido.
Eles estavam conversando no quarto do hospital, ele falava e um tempo depois ela esquecia, ele não sabia mais o que fazer. Começou então a anotar em pequenos pedaços de papel e colar no quarto do hospital para que ela pudesse ler e assim se lembrar. Ela o via nervoso e ficava envergonhada, sabia que era por sua causa.
- Pode desabafar, Robert.
Ele por um momento parou e pensou no que ela tinha falado, até que não aguentou mais e falou:
- Sabe o que é, Marcela, eu casei com você achando que você não teria mais que uma semana de vida. Quando você descobriu sua doença, você me fez prometer que estaria com você sempre e eu me sentiria culpado se não me casasse com você sabendo que a sua vontade sempre foi essa. Não digo que não a amo, mas eu não estava preparado pra casar e eu não estou sabendo lidar com isso. Tá difícil pra você, eu sei, mas você acha que está fácil pra mim? Sei que não sou eu que vou esquecer dessa conversa, é você, porque seu cérebro não é capaz de guardar mais nada do que falo. Eu queria poder injetar um ácido em você ou te sufocar com um travesseiro só para acabar com meu sofrimento e o seu, mas eu sei que não conseguiria fazer isso porque eu realmente gosto de você. Eu só não gosto dessa doença que está fazendo parte da nossa vida, eu a odeio, ela esta te tomando de mim.
Ela olhava com lágrimas nos olhos, quando ele reparou no que tinha acabado de falar, olhou para ela e disse:
- Me desculpa, eu não queria...
- Tudo bem, eu que mandei você desabafar.
As horas passaram, ele foi para o lado de fora e deixou-a no quarto. A médica entrou no quarto:
- Está na hora de fazer seu eletro...
- Sem uma conversa antes?
- O que você quer que eu saiba?
- Você sabe que o Robert pensou em injetar ácido ou me sufocar com um travesseiro para acabar com nosso sofrimento? Sabe que ele se arrepende de ter casado comigo por eu estar doente e não ser a mulher perfeita pra ele? Sabe que ele me falou tantas coisas dizendo que eu iria esquecer e...
- Onde está?
- O que?
- O papel que está escrito isso tudo.
- Não tem papel...
- Você lembrou.
- É, eu lembrei, mas preferia esquecer.
- Vou aqui e volto.
Anna saiu do quarto após o exame com Marcela e procurou Robert.
- Você sabe o que a Marcela me disse?
- O que?
- Que você estava pensando em sufocá-la com um travesseiro ou injetar ácido, isso é coisa que um marido fale para uma esposa com câncer prestes a morrer?
- Você não tem nada com... Ei, ela lembrou disso? Ela lembrou?
Ele saiu correndo e sorrindo foi ao encontro da Marcela, chegando ao quarto 514 do hospital, sentou na cama, alisando o rosto dela e falou:
- Você lembrou, meu amor?
- É, meu cérebro preguiçoso está voltando a funcionar.
- Eu nunca faria nada do que disse com você, eu te amo demais para isso. E vou ficar com você sempre.
Ele a abraçou, ficaram uns minutos assim até que a máquina que estava ligada ao seu corpo começa a fazer um barulho, o seu coração havia parado. Médicos entraram correndo pelo quarto, jogando-o na parede enquanto ligavam a maquina de choque. Após alguns minutos na tentativa de sobrevivência, os médicos pararam. Não havia mais jeito, ela havia morrido.
A culpa o transbordou, ele chorou sentado no chão do quarto, ao lado do corpo dela, de mãos dadas. Ele sabia que a amava, e a cada lagrima a imagem dela vinha a sua cabeça. Ela tinha sido o seu primeiro e único amor.

Naianara Barbosa Melo


Um comentário:

  1. Querida amiga

    O amor,
    tem este poder
    de fazer milagres
    em nós.
    Amar é para mim,
    o único sentido
    dos nossos sentidos...


    Que sempre haja amor,
    para alimentar de sentidos
    sua vida.

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