Páginas

segunda-feira, 19 de março de 2012

O último enviado


Eu estou ouvindo... Milhões de vozes ecoam dentro da minha cabeça e todas dizem a mesma coisa. Sinto que a cada passo que dou, estou mais perto dessas vozes, no entanto, elas continuam longe. Tive que me afastar de todas as pessoas, e seguir para um novo mundo, destinada a encontrar outras pessoas que um dia fizeram parte do meu cotidiano e se perderam no meio do caminho. Sim, elas também tentavam encontrar de onde vinham essas vozes, também sentiam no seu corpo o quão era preciso encontrar o caminho que levava até essas vozes, mas se perderam. Eu sou o sétimo, o último que pode ouvir as vozes, o ultimo que será enviado a fim de encontrar os outros seis. E se eu me perder também? E se eu acabar desistindo? Não sei o que estar por vir. Não sei para onde vou, existem milhares de caminhos.
Duas semanas e vi que o que tem aqui não é tão pior quanto imaginava, mandaram-me com uma alma repleta de poder e tudo que esta contra mim é abatido aos meus olhos. Mas e os outros? Não os encontrei, não sei por onde podem estar, estou disposto a encontrá-los, no entanto procuro numa vastidão de quilômetros e não os acho, nem os sinto, nem os ouço. Suas vozes sumiram, seus poderes acabaram, estão incomunicáveis. Estou numa guerra. Existem inimigos que eu não sabia, de sete eu consegui destruir seis, falta um. No entanto, soube que o meu irmão também foi mandado, porque não o sinto? Preciso vê-lo. 
Mas não o verei, ele se foi, assim como os outros. Samuel o matou, ele matou todos os seis.
Cá estou eu, frente a frente com o ultimo dos meus inimigos. Samuel. O olhar frio dele me dá arrepios, mas eu sei que essa luta já esta cravada e eu tenho que terminá-la. Dei tudo de mim para que ele fosse o ultimo destruído e que assim a minha missão estivesse cumprida, porém uma coisa não estava nos meus planos. As suas ultimas palavras foram: “Não quero lutar com você. Nos impuseram regras e temos que segui-las, mas elas não fazem o menor sentido. Você veio atrás dos outros e nada encontrou, eu também vim e nada do que eles me disseram eu encontrei. Eu me libertei, eu sou livre para fazer o que quiser, e você ainda esta nesse mundo porque? Você me conhece, eu não vou te matar como fiz com os outros. Eu matei todos os cinco, restam eu e você. Eu matei Samuel. Eu te amo como um irmão, eu te ensinei tudo que você sabe, DIGA O MEU NOME!” “Miguel...”, sussurrei. Não acreditava que o meu irmão tinha matado todos. Fui consumido por um ódio ardente e todos os passos que dei em direção a ele eu saberia que seriam os últimos, não podia deixar ele ficar daquele jeito, o que ele tinha se tornado? E então eu o matei. O sexto enviado. O meu irmão. O ultimo dos meus inimigos.
Apesar disso não me via como esperava, eu estava sem o meu irmão. E no alto de um prédio olhei para baixo e vi que nada podia ser tão doloroso quanto a morte. De costa para a escuridão assustadora, no alto da grade que cercava a torre mais alta do prédio, braços abertos, a chuva molhando todo o meu rosto e me deixando pesado, o coração batendo fraco, o sangue correndo forte... Tudo isso em um segundo, até que me deixei cair. Cair era a ultima coisa que um anjo poderia fazer. Sem asas, não teria mais para onde ir, era o fim. E agora a voz ainda ecoa na minha cabeça enquanto caio, mas pela primeira vez, é a minha voz que eu ouço. Eu desisti. Me perdoe.

Naianara Barbosa 

Nenhum comentário:

Postar um comentário