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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Monstros



A noite é um dos piores momentos das 24h, as crianças a temem porque sabem que nessa hora os monstros saem de debaixo das suas camas e vem para assusta-las. E mesmo com o passar dos anos, isso não muda muito. É tudo a mesma coisa e a noite os mesmos medos das crianças tomam os adultos também, porém, os monstros não são mais os mesmos. Os mais terríveis monstros são aqueles que vem de dentro, que passam a te rondar, alguns deles tem nomes. Solidão, saudade, arrependimento, tristeza... mas existem outros que são inomináveis e inquestionáveis. Não há o que se dizer sobre eles, mas todos sabem que eles deixam marcas, feridas e até derramam lágrimas. Existem noites que com todos esses monstros diante de mim, sento na minha cama e choro até dormir, tem outras que eu apenas choro. A angustia que é sentir algo e não saber o que é me machuca e me transforma em algo que não sei dizer o que é, necessariamente. Eu sinto, eu o sinto e sei como dói querer saber de algo e por mais que tente, não consigo reconhecer. A cada dia que passa os monstros tendem a se alastrar, e a noite eles vem com tudo de mais doloroso para me atingir.
Talvez eu já tenha entrado num estado de frieza sentimental, eu já não me importo mais com os tais monstros. Me olho no espelho e vejo todos eles ao meu redor, mas não falo nada, nem choro, nem gemo, nem grito, nem sinto. A presença deles passou a fazer parte do meu cotidiano monótono e são eles que me trazem – muitas vezes – uma paz interior. Não que eu tenha passado a gostar deles, isso não é verdade, mas a cada volta que eles dão em torno de mim eu sinto que sou pressionada a pensar em coisas que no dia claro eu não penso.
Pensamentos confusos e traidores, dores angustiantes e arrasadoras, horas que demoram a passar. Tudo tem um tom melodramático, tudo tem uma sinfonia pesada, tudo leva a pensar nos problemas, e nos momentos vazios. E mesmo que eu tente, viver sem esses monstros seria sair de uma estabilidade sentimental. Por mais que devastadores, eles trazem consigo uma leveza que não encontro em nenhum outro lugar, talvez por serem tão pesados, ou serem vistos assim. Às vezes eles apenas veem para te fazer pensar em que monstro você está se tornando.
É isso! E se os monstros não forem eles, fosse você? E se seus sentimentos – ou ausência deles – estivesse tornando de ti um monstro? Fere-me a possibilidade de estar me tornando um monstro por causa das ações alheias, o mundo me decepciona de dia e eu me transformo a noite. Enfim compreendi o porque de todos esses ditos “monstros” virem me confrontar a noite, eles queriam que eu visse que o monstro era eu, que o que estava me ferindo era eu, o que me torcia e me fazia chorar... era apenas eu.


Naianara Barbosa Melo

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