Estou morto. Morto literalmente, meu coração já não bate e o
que vejo é a total e inebriante escuridão que reflete o que eu era por dentro.
Já estava morto há muito tempo. Mas antes de ir-me para não sei onde, quero
contar-lhe a minha longa e entorpecida vida. Não tenho muito tempo, serei breve
como uma brisa que passa e arrasta o que um dia você achou ser seu, e o leva
para sempre. Desde o inicio sorri forçadamente para todos a minha volta, beijei
de brincadeira uma garota só, por 37 anos, o casamento não foi o pior dos
temores, no entanto, nunca chamarei isso de dádiva. Disse o comum “obrigado”
“obrigado” ao bater cartão numa dessas empresas chulas de mercado, o meu
desamor pelo mundo era inexplicável e imensurável. Cultivei flores de plástico
por décadas a fim de manter um jardim o qual chamam de corpo humano em
andamento, para que ele não parasse de funcionar tão cedo, dormia dopado dessas
minhas flores toda noite e, indiscutivelmente, grande parte do dia. Nadei na
parte rasa de todo o oceano que esteve a minha frente, por medo dos perigos que
havia de enfrentar caso ultrapassasse o meu limite pessoal, o medo sempre
esteve me acompanhando. E então fechei os olhos pela ultima vez, hoje, mas te
confesso que nunca os abri de verdade.
Naianara Barbosa
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