Sou a fotografia preta e branca na parede da casa, sou a
poesia estonteante que mora em minha alma, sou o pássaro renascido que abre
voo, sou a plebe indignada com a sua condição, sou o fogo que queima, que arde
e incendeia. Sou de tudo um pouco, sou do nada um terço, sou a criança ou o
berço, sou o recomeço. Sou o segundo, o instante, a calmaria – sem nada mais a
manifestar –, sou o que calo diante dos tons graves e me contorço com os
timbres agudos, sou o vilarejo abandonado de onde se vê o por do sol e um casal
de velhinhos. Sou a palavra que te atinge, sou o delírio que te comprime, sou o
vendaval que passa e bagunça, e arrasa, e arrasta tudo que um dia foi seu. Sou
a noite fria, sou tua moradia, e sem perceber fomos ficando iguais, duas luzes
distantes demais.
Naianara Barbosa Melo
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