E virando-se para o primeiro ônibus que passou, suas últimas
palavras foram “eu estou atrasada”. Entrou no ônibus e nem sequer olhou para
trás para olhar para ele. Aquele último olhar, sabe? De despedidas de filmes. E
ele ficou lá parado por uns longos 20 minutos, revivendo aquela cena. Aquilo
tinha doído. Ela estava atrasada pra que? Para sair da vida dele, ou para
tirá-lo da vida dela? Ele não sabia. Ele era o tipo de garoto que ninguém dava
nada. Moreno, cabelo preto, olhos verdes, alto, musculoso, com abdômen
dividido. Um cara desses, pelo perfil da sociedade, pega todas e depois deixa
para trás. Mas ele era diferente, ele a amava. E ele foi deixado. Três palavras
e 30 km/h o distanciava dela, e essa distancia ia aumentando a cada segundo que
ele olhava o ônibus partindo, enquanto ele estava ali, parado, sentindo-se
completamente... vazio.
- Seu idiota, imbecil, otário. Se apaixonou e olha no que
deu, foi largado. Ah, ela nem era tão bonita assim. Ela só era morena, dos
cabelos grandes cacheados, os olhos castanhos, os lábios perfeitos, o olhar
encantador, as mãos que encaixavam das minhas, o abraço que me tirava todo o
medo, o sorriso que me apaixonava. Para! Para de falar assim dela, idiota. –
Ele repetia para si mesmo, tentando diminuir o que sentia.
O outro dia foi totalmente sem noção, ele não se concentrava
em nada. Seu pensamento estava nela, sua vida pertencia a ela. E ela tinha ido
embora sem nem sequer saber disso. Passado dois dias, ele foi para o ponto de
ônibus que ela sempre ia, todos os dias, o mesmo horário. Ele esperou 20
minutos até vê-la caminhando com sua blusa preta e branca listrada, calça
jeans, sapatilha e o cabelo de lado.
- Como ela está linda. – ele disse para si mesmo.
Ela foi se aproximando, estava no telefone e não o viu.
Quando chegou no ponto, viu um garoto com o boné para trás, segurando uma rosa
na mão. Ela olhou direito e percebeu que era ele, então balançou a cabeça
negativamente e lentamente. Ele olhou desconcertado, chegou perto e
entregou-lhe a rosa, eles trocaram
olhares por um tempo até que ela pegou a rosa da mão dele e deu-lhe um beijo.
Ele a segurou e disse, em meio ao beijo: “nunca se está
atrasada para o amor”. Ela riu. Ficaram abraçados, até que aquele ônibus, o de
quatro dias atrás, reapareceu. Ela
deixou o ônibus ir, e ficou ali. Ele não entendeu. 11:58, ela tinha que ter
ido. Até que ele ouviu:
- Qualquer atraso é bem visto, quando se trata de nós dois.
Veio outro ônibus, ela o soltou rindo, e falou:
- Eu te amo, mesmo estando atrasada. E subiu, e o olhou de
lá de dentro. Ele sorriu. Porque apesar de todo atraso na vida dos dois, ele
sabia que esse amor valia a pena.
Naianara Barbosa Melo
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