Tinha um feitio por morder lábios, se deliciava enquanto
puxava com seus dentes os lábios de alguém. Sim, a primeira coisa que ele
olhava era a boca, se os lábios o chamassem atenção, ele iria atrás e faria de
tudo para prova-los. Isso tudo era no mundo do lado de fora, pois no seu mundo
ninguém sabia dessa sua tara por lábios.
Dia comum, marcou para assistir filme com os amigos, coisa
que sempre acontecia. Esperava por todos e acabou que só uma amiga foi, ele
achou tudo bem e começaram a assistir. Riam e debochavam do filme, até que
ficou aquele silencio entre os dois e resultou num beijo. Ele suspirou,
respirou, se assustou, nunca imaginara que os lábios dela seriam tão perfeitos,
e que cabiam perfeitamente nos seus. Era macio, era delicioso, morder os lábios
dela tinha se tornado a coisa mais incrível e mais delicada de todas.
Dai em diante nenhum dos outros lábios lhe bastavam, nenhum
se comparava ao dela, ele estava apaixonado. Mas ele se perguntava: por ela ou
pelos lábios dela? Era uma pergunta simples, mas lhe faltavam argumentos e
pensamentos na hora de responder. Ele acabara se fissurando nos lábios dela e
os queria para ele. Os desejava a cada noite, ao acordar, em tudo. Ela já não
saia do seu pensamento.
Eles se reencontraram, afinal eram amigos, e os olhos dele
brilharam, sua boca secara e sua cabeça já não pensava em mais nada. Ele olhava
para ela e só. Se abraçaram e aquele cheiro o delirou, ele não sabia o que
fazer, até que:
- Aceita namorar comigo?
As palavras soaram baixas, o que ele tinha acabado de fazer?
Era a sua vontade, mas não era a hora certa, ele sabia que ela iria negar, a
amizade deles tinha anos, ela o considerava um irmão, que idiota que ele tinha
sido, iria tomar um fora da pessoa que mais queria, iria...
- Aceito.
Ela disse com um sorriso no rosto e ele parou, ficou
completamente sem reação. Ela havia aceitado, ele a teria para si. Uma enorme
felicidade corria por seu corpo e junto dela um medo terrível. Ele agora era
responsável pela felicidade dela, e a sua própria felicidade estava nas suas
mãos, e se ele a fizesse sofrer? Pensamentos assim os perturbavam, mas ele não
tirava o sorriso do rosto. A tinha conquistado e isso era que importava.
- Eu mal sei cuidar de mim, mas prometo cuidar de você.
E sorriu desconcertado, olhou pra baixo e fixou o olhar no
chão, ela o abraçou e disse:
- Eu estou fazendo isso a muito tempo.
E ficaram lá, abraçados, sorrindo e pensando em como seriam
suas vidas de agora em diante. Ela criava planos, ele também, mas nenhum dos
dois falara nada... O tempo resolveria a vida deles.
Naianara Barbosa Melo
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