Houve o tempo em que o amor era o clichê necessário, era
a melancolia que todo mundo buscava. Que a poesia era bela, ainda que redundante;
que os sonetos eram esplendentes e as pequenas e velhas rimas tiravam sorrisos
memoráveis. Versos livres, com receio de serem descobertos, de serem flagrados
a beira do precipício em que estavam prestes a se jogar, para que as palavras
caíssem de tal forma que fizessem um estrondo no mundo e assim tocasse a todos.
As borboletas saíram dos estômagos e se diluíram em meio a névoa que tomou conta
dos corações, as sombras se escondem por estarem tão sós, mesmo em meio à
claridade ofuscante dos poucos olhos ainda apaixonados. Talvez num ímpeto eu
prefira me calar e observar tudo aqui sucumbir, ou talvez, quem sabe, alcançarei
tua imagem que está suspensa sob a minha cabeça. Esticar-me-ei até que toques
em ti, mesmo sabendo que foges, meu bem, me arrastarei e acolher-me-ei em teus
braços, porque só eles me entendem, só eles são o abismo pelo qual me jogarei. O precipício é apenas uma causa, e
quero ser a tua assim como és a minha. Só você pode me tirar da escuridão que o
mundo tornou-se. Prefiro ao meu particular que ao mundo particular de todo o
resto. A esse lugar em que
habito, peço licença para me acolher e me guardar, porque infelizmente ele
tornou-se um ambiente para “não-amantes”, e não há alguém que ame mais que eu. E ao clichê que era necessário
à tempos atrás, ainda necessito que sejam ditos à mim, porque nasci do amor e é
dele que irei me desfazer.
Qualquer dia te mandarei flores, tocarei a campainha e ficarei nervosa. Para o amor tem coisa mais clichê que isso? E eu sou um clichê vivo.
Naianara Barbosa.
Qualquer dia te mandarei flores, tocarei a campainha e ficarei nervosa. Para o amor tem coisa mais clichê que isso? E eu sou um clichê vivo.
Naianara Barbosa.